terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Casos já publicados


Tendências Primaveris - publicado em 18 de Julho 2008


O que parecia ser um beco sem saída acabou por se transformar numa oportunidade bem aproveitada. Foi o que aconteceu com que Ana Paula Rodrigues, empresaria de 38 anos quando esta se viu perante uma situação de desemprego, sem ter recebido qualquer indemnização nem mesmo os seus direitos enquanto trabalhadora por conta de outrem (ferias, subsídios de Férias e Natal). O que faria, sem emprego e com uma filha adolescente para criar?

Ana Paula Rodrigues cedo começou a trabalhar, não apenas para ajudar ao rendimento familiar mas também porque a escola não era uma coisa de que gostava especialmente. Após ter concluído o sétimo ano de escolaridade, com apenas 14 anos decidiu procurar trabalho que facilmente arranjou como costureira numa empresa têxtil de media dimensão - a Onditex.
Aqui foi desenvolvendo a sua carreira num sector que nessa altura (década de 80) atravessava um período marcado por uma forte aposta na modernização, através do investimento em novas tecnologias, o que veio a revelar-se fundamental para o desenvolvimento do mesmo.
Começou por realizar tarefas menores mas, rapidamente, foi revelando competência e habilidade para o desenvolvimento de modelos, área fundamental no sector têxtil. Permaneceu 17 anos nesta empresa de onde saiu com a categoria de costureira especializada.
Apresentava-se então um novo desafio, havia sido convidada para ocupar o lugar de encarregada de confecção numa microempresa que acabava de ser criada, a Ninfamar.
Nesta altura a industria têxtil e do vestuário inicia uma fase de reestruturação e reconversão que terá como repercussões a eliminação de milhares de postos de trabalho, resultado da queda das barreiras ao comércio internacional e da emergência de um novo quadro regulador do comércio internacional de têxteis e vestuário.
A empresa dedicava-se à produção de biquínis e fatos de banho, desenvolvendo uma grande parte da sua actividade em regime de subcontratação quer para empresas nacionais quer para empresas estrangeiras.
Alguns erros de gestão e o facto de depender da actividade de subcontratação fez com que esta empresa declarasse falência no ano de 2005 e pela primeira vez Ana Paula Rodrigues encarava a situação de desemprego.
Depender do subsídio de desemprego, direito que lhe assistia, não era uma opção definitiva para esta mulher que sempre trabalhou e foi independente. Na posse de algumas máquinas usadas, que havia recebido como pagamento dos seus direitos por parte da antiga empresa, Ana Paula decidiu que era hora de criar a sua própria empresa e utilizar todo o conhecimento que tinha adquirido ao longo do tempo agora em benefício próprio.
Em Outubro de 2005 cria uma microempresa (com 10 postos de trabalho, incluindo o seu) e inicia a sua actividade como empresaria em nome individual dedicando-se exclusivamente a produção de fatos de banho e biquínis.

Ainda hoje se lembra do factor que fez a diferença quando iniciou a sua actividade – a primeira encomenda – 2.000 fatos de banho de natação em que o cliente adiantou uma parte do pagamento o que lhe permitiu comprar a matéria-prima necessária.

Foram as primeiras das 100.000 entretanto peças já produzidas para grandes marcas, traduzindo-se numa estratégia de business to business ou seja em regime de subcontratação.
Esta pequena empresa reconhece as vantagens de trabalhar em regime de private label, mas no entanto tem já em desenvolvimento um projecto para a criação de marca própria para o segmento de fatos-de-banho de natação.

Com um volume de negócios estimado para este ano de aproximadamente 300.000 euros, o que representa um crescimento de 66% face a 2007, aponta como principais vantagens competitivas a qualidade e rapidez na satisfação dos pedidos dos clientes. Uma mais valia importante é também a parceria que mantém com a Tendências Futuras (estamparia), que lhe possibilita oferecer estampados personalizados acrescentando valor ao produto final.

Recentemente o investimento realizado em equipamentos e tecnologia computacional também permitiu o melhoramento do processo produtivo, reduzindo o desperdício de matérias-primas e, consequentemente, aumentando os níveis de eficiência da empresa.


Planos para o futuro

Ana Paula Rodrigues quer dar um passo de cada vez, até porque os apoios por parte do sector financeiro para a expansão da actividade não são nenhuns, o que dificulta muito as coisas.

A primeira preocupação foi ganhar mercado e consolidar uma carteira de clientes que permitisse garantir uma certa estabilidade da empresa.

Agora o fundamental é pensar e preparar o futuro, que passará sem dúvida por continuar a trabalhar em regime de private label, mantendo-se a estratégia de business to business. No entanto esta jovem empresária tem aspirações de ver o desenvolvimento da sua marca não só no mercado interno mas, quem sabe, também no mercado externo.

Definir um projecto integrado que permita a obtenção de apoios por parte do sector financeiro é agora o desafio a vencer.

Uma coisa é certa para Ana Paula Rodrigues, quer seja na sua marca própria quer seja no serviço que presta em regime de subcontratação, a qualidade será sempre o seu cartão de visita e o que a fará vencer a concorrência.


Entrevista

VE - Deixou a escola muito cedo, se fosse hoje teria feito o mesmo?
APR - Teria, a escola não me atrai muito, mas reconheço a importância dos estudos nos dias de hoje. No entanto esforço-me por me actualizar especialmente no que se refere às novas tecnologias.

VE - Como vê a formação para os seus colaboradores?
APR - Apesar de sermos poucos, a “Tendências Primaveris” aposta na formação dos seus colaboradores, especialmente a relacionada com novos equipamentos.

VE - O emprego na indústria têxtil foi opção ou foi a única hipótese disponível?
APR - Na altura foi a única hipótese disponível. Entrei para a empresa porque tinha um familiar que trabalhava lá.

VE - Durante todos estes anos ligados a confecção, nunca pensou em fazer outra coisa?
APR - Não, gosto do meu trabalho.

VE - Quando se viu na situação de desemprego, que hipóteses considerou?
APR - Ainda pensei em procurar emprego numa outra empresa da mesma área.

VE - O que a levou a optar por criar a sua empresa?
APR - A oportunidade de poder fazer o que gosto e lutar para construir algo meu, afinal trabalhava de dia e de noite para os outros, agora faço-o para mim.

VE - Quais foram os maiores obstáculos à criação da sua própria empresa?
APR - A falta de apoios e ajudas para a criação da empresa, até mesmo do Instituto de Emprego e Formação Profissional. As dificuldades colocadas pelos bancos no financiamento das empresas, logo numa fase em que é essencial, ou seja no seu arranque.

VE - Quais foram os factores mais importantes no lançamento do seu projecto?
APR - A qualidade das matérias-primas, a prestação de um serviço integrado que vai desde a modelagem à produção dos artigos. A aposta na flexibilidade da produção e a organização são fundamentais.

VE - Num sector tão ameaçado pela concorrência global, o que pensa ser a chave para que empresas como a sua sobrevivam?
APR - Qualidade, qualidade, qualidade…

VE - O que pensa da ameaça Chinesa?
APR - A nível da produção de biquínis não me parece que sejam uma grande ameaça. As marcas pretendem um produto personalizado com uma forte aposta nos detalhes e em pequenas séries, coisa que a industria chinesa não está preparada para oferecer.

VE - Como gostaria que fosse o futuro da “Tendências Primaveris”?
APR - Que crescesse e mantivesse uma estabilidade que lhe permitisse continuar por muito tempo. Gosto de dar pequenos passos mas seguros, não peço demais.

VE - Que apoios gostaria de ter por parte do Estado ou das Instituições?
APR - Que ajudasse mais as pequenas empresas no sentido de facilitar e desburocratizar os processos.


Sem comentários:

Enviar um comentário