sábado, 2 de outubro de 2010

SER EMPREENDEDOR - Jorge Araújo


Um empreendedor, percepciona a realidade de modo diferente do comum dos mortais. Caracteriza-se por não se deixar “aprisionar” pelo pensamento tradicional, nem pelo medo do desconhecido ou de errar. Trava uma luta constante para convencer todos os que o rodeiam daquilo em que acredita. Não teme, nem hesita em defender a sua visão da realidade e, as soluções que preconiza.
Ser um empreendedor requer, também, ser capaz de criar ao seu redor um meio ambiente que evite poder ser vítima de isolamento ou qualquer tipo de ostracismo.
Um empreendedor faz normalmente coisas que os outros dizem, ou julgam, não ser possíveis.

O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO

Nos últimos anos, foram desenvolvidas na área das neurociências, imensos estudos procurando esclarecer como funciona o nosso cérebro. Nomeadamente, no que respeita à forma como reagimos perante a cultura e sabedoria vigente, o que está por detrás da mobilização da nossa motivação e o impacto comunicacional que se torna necessário para conseguirmos convencer os outros das nossas ideias empreendedoras.
Estes estudos, permitiram concluir que, por exemplo, por razões de acomodação e também de eficiência, o nosso cérebro procura evitar qualquer tipo de mudança e que, muitas vezes, inclusive, ele próprio, sabota o pensamento criativo. Dizem estas investigações, que a actuação do nosso cérebro assenta em três funções:
- Percepção
- Medo de resolver
- Inteligência social

PERCEPÇÃO

A percepção é uma função muito dependente da aprendizagem, das experiências prévias. Em certas circunstâncias, as experiências vividas incitam-nos para a mudança, para sermos criativos e empreendedores. Noutras, pura e simplesmente que nos acomodemos.
O nosso cérebro interpreta os estímulos físicos transmitidos pelos sentidos. Cada coisa que o cérebro vê, ouve, ou toca, tem múltiplas interpretações possíveis.
A solução escolhida, não é mais que a melhor possibilidade que o nosso cérebro encontrou para interpretar os sinais recebidos, com base numa interpretação estatística dos dados que possui, provenientes das experiências anteriores e da influência da opinião daqueles que nos rodeiam.
Ora, como tudo o que é novo assusta, provoca receio, incerteza e desencadeia o medo do ridículo, só teremos vantagem em, desde muito cedo e no decurso da nossa educação e formação, nos sujeitarmos aos estímulos mais diversificados possível, que “obriguem” a percepcionar de forma diferente ao longo do tempo, tudo aquilo que vemos, ouvimos ou sentimos.
Por razões de poupança de energia, o nosso cérebro precisa de ser muito eficiente. Para o conseguir, interpreta o que vê, juntando-lhe a experiência anterior e o que os outros dizem e defendem.
A percepção é uma interpretação do cérebro. Ver, não é a mesma coisa que percepcionar. Os olhos não são mais que uma lente óptica e um detector de imagens. A percepção é um produto do que vêem os olhos, mas também e acima de tudo da respectiva interpretação do cérebro.
Percebemos tudo o que nos rodeia, através das experiências anteriores e o nosso cérebro está sempre a tentar dar sentido ao que vê. O cérebro, quando percepciona, procura ser muito eficiente em termos de poupança de energia. Presume acerca da informação que recebe, vê as coisas que nos rodeiam da forma que lhe é mais favorável (a que estamos mais habituados).
Por isso mesmo, é importante treinarmos o nosso cérebro a ver o que é novo e diferente, forçando-o a criar novas formas de percepcionar a realidade.
Para sermos inovadores e criativos (empreendedores), temos de estar habituados a olhar para coisas que nunca vimos antes, mudar com frequência de meio ambiente, criar novos conhecimentos, lidar com pessoas que pensem de forma diferente.
No processo de tomada de decisão, não há, na maioria das vezes, tempo para pensar, reflectir, analisar. Por isso o cérebro tem de “adivinhar” acerca do que vê. E este decidir “automático”, destrói por vezes o processo criativo em que se baseia o pensamento empreendedor.
Ser empreendedor, significa ser capaz de ver as coisas, não como pensamos que são, mas como poderão ser!
Para agirmos como empreendedores temos de ser capazes de quebrar o ciclo experiência/educação/regras/preconceito.

O MEDO DE RESOLVER (stress)

Entre as três funções cerebrais atrás apontadas (percepção, medo de resolver e inteligência social) o medo, provoca stress (sobe a pressão arterial, aumenta o ritmo cardíaco, a boca seca, as mãos tremem, a voz perde firmeza, sentimos “borboletas” no estômago, etc.).
Este medo faz parte da história evolutiva dos seres humanos, pois foi, através dele que, ao estarmos em perigo, funcionaram os nossos “alarmes” defensivos. O sistema que desencadeia este stress, não é voluntário. Reage quando provocado e constitui uma dificuldade para o exercício da inovação, da criatividade.
Em tudo o que respeita a reacções emocionais, quando temos medo, a percepção fica profundamente afectada. O medo de tomar decisões, inibe a acção, interfere na percepção e altera o que vemos. O que não significa simplesmente “não fazer”, mas também (e muitas vezes!) decidir e fazer mal!
O medo do desconhecido, totalmente diferente do medo de errar, é também um enorme obstáculo à possibilidade de sermos empreendedores.
Tudo o que respeita a emoções, atitudes e comportamentos, requer a presença de alguém neutro (o treinador comportamental) que intervenha, ajudando a reflectir e a melhorar de forma contínua a respectiva gestão.
O medo manifesta-se segundo três tipos:
- Medo do desconhecido
- Medo de errar
- Medo do ridículo
Para combatermos estes medos, devemos, primeiro, recolher muita informação e ouvir opiniões diferenciadas. Tudo se treina e em tudo é possível melhorar através do treino, aprendendo a controlar os medos (emoções tóxicas) através da intervenção racional do cérebro (treinando a gerir essas emoções).
INTELIGÊNCIA SOCIAL

Expressamos a nossa inteligência social, através da empatia, do sentido de justiça, da identidade social, da capacidade de convencer os outros das nossas razões (impacto nos outros). Esta inteligência social depende da percepção, mas está também sujeita às forças sociais (influência do contexto e das circunstâncias).
O cérebro humano evoluiu no sentido de valorizar o contacto social e a comunicação. E a influência no nosso processo de tomada de decisão, dos outros e dos grupos, ressalta cada vez mais. Muitas vezes, sem nos apercebermos, emitimos opiniões e tomamos decisões claramente influenciadas pelo meio ambiente em que nos inserimos. O que, nem sempre, nos deixa numa posição muito confortável. Por um lado sentimos necessidade de fazer parte de um grupo (orgulho de pertença) e este influencia-nos pela positiva. Pelo outro (muitas vezes!), somos negativamente influenciados pela cultura e tradição do grupo a que pertencemos.
Na tomada de posição ou de decisão, é frequente capitularmos perante aquilo que é a opinião do grupo.
O cérebro humano é muito susceptível à opinião dos outros.
A percepção é moldada, não só pelo que os olhos nos transmitem, mas também pelas expectativas que temos acerca do que vimos. O nosso cérebro, perante aquilo que os olhos lhe transmitem, faz suposições com base no contexto daquilo que o grupo a que pertencemos, pensa e as experiências anteriores que tivemos.
Por razões de eficiência, o nosso cérebro opta (quase sempre) por escolher a menos controversa (e a mais usual) das opiniões ou decisões. O que, obviamente, contraria bastante o incremento de atitudes e comportamentos empreendedores.
Os outros afectam muito a nossa percepção, daí o só termos a ganhar com o facto de pertencermos a um grupo cuja constituição seja muito diversa e complementar. A percepção é um julgamento estatístico, que obedece à lei das maiorias (dos grandes números). Os grupos que autorizam opiniões minoritárias estão, estatisticamente, melhor preparados para terem decisões mais eficazes.
A busca constante da unanimidade, não é o melhor caminho para incentivar o aparecimento de empreendedores. Devemos encorajar diferentes opiniões e, contrariar, a tendência para a unanimidade. E é preciso treinar e repetir este enquadramento, eliminando por essa via o medo de errar ou de estar “contra” ou “remar contra a maré”.
A inteligência social é muito importante em tudo o que respeita á relação com os outros.
Assenta na familiaridade e na reputação. É muito importante criar uma aura de familiaridade e de reputação! Possuir uma reputação positiva e estabelecer relações de familiaridade, é muito importante para estabelecer ligação com os outros. Podemos influenciar os que nos rodeiam através de um sorriso e com uma atitude entusiástica.
Entretanto e obviamente, persistem ainda muitas dúvidas. Em especial, no que respeita à resposta às seguintes questões:
- Qual é o segredo contido na mobilização do ser humano a caminho do sucesso e da excelência?
- Quais os aspectos fundamentais relativos ao impacto comunicacional?
No que respeita á mobilização da motivação, importa perceber a influência respectivamente do, meio ambiente, herança genética e apoio de um “treinador”.
Sabemos que o meio ambiente em que vivemos é bastante influente e decisivo. Tanto quando nos estimula e solicita permanentemente inovação e criatividade e exige que façamos sempre de forma cada vez mais actualizada, como quando nos “obriga” a “fazer como sempre se fez”.
Está entretanto perfeitamente identificada a limitação ou a vantagem contida na pessoa que somos, por via da herança genética entretanto recebida. Gostamos de aceitar desafios, ou preferimos acomodarmo-nos, recuando sempre perante o medo do desconhecido e de termos de fazer como os outros, seguindo as tradições, a cultura e os valores vigentes.
É fundamental existir ao nosso redor, quem nos acompanhe, incentive, ajude e ensine sem desfalecimentos (pai, tutor, mestre, treinador, professor, etc.).
O meio ambiente, a herança genética e a presença de um “treinador”, são, por assim dizer, factores críticos para o sucesso de qualquer ser humano.
Já no que respeita ao impacto comunicacional, as questões centrais andam ao redor de, o empreendedor, ver oportunidades onde outros encontram ameaças.
O empreendedor, tem de ser capaz de compatibilizar as suas ideias inovadoras, com as já existentes. E isso só será possível através da inteligência social, influenciando o meio ambiente e induzindo-lhe comportamentos criativos.

CONCLUSÕES
Só mudamos de atitudes e comportamentos, quando tem mesmo que ser.
E aquilo que nos faz mudar é a novidade (a surpresa). Novidade e aprendizagem andam sempre juntas. Mudamos através de muito e intensivo treino comportamental, tal como de um fundamental ganho de experiência.
Os nossos genes representam os alicerces e o cérebro a adaptação.
As decisões tomadas rapidamente, podem ser tão boas como as decisões tomadas com cautela e deliberação. Mas atenção! O nosso inconsciente é uma força poderosa, mas pode falhar! Não descodifica sempre bem e de forma instantânea a “verdade” de qualquer situação. Mas sendo assim, quando podemos confiar nos nossos instintos e quando temos de ter cuidado com eles? Educando-os e controlando-os o mais e o melhor possível! Assim como podemos aprender a pensar lógica e deliberadamente, também podemos aprender a fazer melhores avaliações instantâneas. Necessitamos formar, controlar e educar as nossas reacções inconscientes.
O poder de saber decidir com eficácia, nos segundos iniciais, não é um dom mágico de algumas pessoas beneficiadas pela sorte.
É uma capacidade, que pode ser desenvolvida para nosso benefício. Temos para isso de conhecer e perceber bem o nosso comportamento.
Nas relações entre pessoas, existem dois estados possíveis.
A supremacia do sentimento positivo, em que as emoções positivas ultrapassam as negativas. Ou a supremacia do sentimento negativo, em que mesmo uma coisa neutra pode ser vista como negativa.
Por fim, importa saber retirar conclusões acerca do impacto de todo este conhecimento no exercício da Liderança.
Quem lidera pessoas e equipas, não deve julgar-se capaz de, num espaço curto de tempo, alterar o que levou anos a ser adquirido. Atitudes e comportamentos egoístas, não se modificam de um momento para o outro. Personalidades incapazes de lidarem com a frustração (sempre contida no insucesso) não se mobilizam, simplesmente porque quem lidera lhes identifica essa dificuldade.
Pelo contrário, resistem a admiti-lo, preferem lutar contra essa ideia, tentando por diversas vias que, havendo um responsável pelo insucesso, não sejam eles.
Formar e treinar pessoas e equipas, através de uma liderança inspiradora e mobilizadora, requer tempo, reflexão, avanços e recuos, visão estratégica quanto ao que se pretende alcançar a curto, médio e longo prazo.
Sempre com ideias claras quanto ao facto de, dever ser na área comportamental que as grandes transformações devem ocorrer.
Auto-estima, auto-conhecimento e auto-preparação, são as chaves formativas que, quem lidera pessoas e equipas, necessita saber utilizar ao serviço da formação daqueles a quem se dirigem.
Importantes para os formandos, mas indispensáveis também para quem lidera.
Não existe nada pior do que a presença, no acto formativo, de um líder mal consigo próprio ou incapaz de se desprender dos seus problemas pessoais ao serviço daqueles que dirige.
Servir, mais que servir-se. Eis a responsabilidade de quem lidera.

1 comentário:

Nuno Bispo disse...

Excelente informação.

Obrigado pela partilha.

Enviar um comentário