segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O meu conselho para um empreendedor - Por Jorge Araujo

Em tudo o que respeita ao ensino e treino de atitudes e comportamentos empreendedoras, pais, professores, treinadores, gestores de empresas, políticos, etc., cada um dentro do seu âmbito de responsabilidade, revelam uma preocupante falta de preparação. Falham, quase sempre, em aspetos decisivos de um processo que lhes exige bem mais que aquilo para que estão preparados para corresponder.

Avaliam e comparam de forma extemporânea, fomentam o medo de errar, condicionam uma fundamental disponibilidade para arriscar. Desresponsabilizam, eliminando gradualmente o amor à prática e a curiosidade e criatividade que as crianças e jovens revelam naturalmente. Esquecem que os hábitos de excelência ao nível do empreendedorismo, ou se adquirem até aos 16 anos, ou será sempre muito mais difícil que, a partir dessa idade, venham a ser adquiridos de forma a poderem atingir níveis de excelência. Avaliam desempenhos, dão notas, comparam resultados, aprovam e reprovam, classificam (de forma quase sempre absolutamente precipitada e injusta) e apressam-se a selecionar os que designam como «bons» e preterem os ditos «maus».

Tudo isto, em detrimento da paixão e entusiasmo que deveriam ter continuado a potenciar, do incentivo, da disciplina e do rigor, da exigência, da intensidade do trabalho, do aprender com os erros, do experimentar por via de tentativas e erros e correspondente reflexão sobre o que se fez, bem ou mal.

Em vez de os questionarem e ajudarem a refletir sobre as soluções possíveis para os problemas com que deparam, em vez de os educarem com base em valores e princípios que mais tarde lhes sejam essenciais para saberem o que querem, para onde ir e como fazer a cada momento, optam por lhes “impor” caminhos e soluções, “saltando” etapas de desenvolvimento.

Aquilo que muitos designam como ensino, formação e treino, não passam de atividades demasiado formais, quase sempre desligadas da realidade, em que os jovens são meros “recipientes vazios” para onde se “despejam” saberes, técnicas, ferramentas, etc. e que, lamentavelmente e na maioria das vezes, as crianças e os jovens nem sequer sabem para que servem e em que circunstâncias as devem utilizar.

Em vez de ensinarem a aprender a fazer, fazendo, com o suporte do respetivo “treinador”, limitam-lhes a descoberta e a vivência concreta da realidade para a qual precisam de ser preparados.

Mas não só!

Tão preocupados que estão com os resultados a curto prazo que, ao detetarem e selecionarem aqueles jovens que consideram reunir um maior e melhor potencial, optam pelos que, por razões meramente morfológicas e biológicas, “vão mais à frente” no seu desenvolvimento.

No fundo, escolhem os que no imediato “garantem” sucessos, mas que nem sempre são os que possuem melhor potencial futuro. Este é um verdadeiro “caminho das pedras” a que os jovens têm de se sujeitar, frequentando aulas, treinos, formação de quadros de empresas, etc., cuja monotonia, falta de rigor e exigência, envolvência emocional, etc., são claramente desmobilizadores e saturantes.

Em conclusão, o meu conselho para um empreendedor é que, enquanto pais, professores, treinadores, gestores de empresas, políticos, etc., saibam deixar atrás de si um rasto (uma herança!) dos muitos jovens empreendedores de que o país tanto carece.

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