domingo, 5 de agosto de 2012

Perspetiva estratégica do BPM (Business Process Management)

Um contributo fundamental para a competitividade das empresas

O BPM é uma sigla que tem vindo a ser usada com vários significados. Aquele a que me refiro diz respeito às abordagens de gestão por processos. Mesmo assim, ainda surgem várias perspetivas do significado BPM neste contexto. Pela força das tecnologias que suportam este conceito, BPM é muitas vezes associado a tecnologias de informação que têm por objetivo automatizar processos de negócio. No entanto, a comunidade técnica e científica já convergiu em separar os conceitos BPM de BPMS, sendo o primeiro associado às abordagens de gestão e o segundo (Business Process Management System ou Suite) às tecnologias de informação dedicadas à modelação, desenho, análise, execução e monitorização dos processos de negócio.

Assim, quando falamos de BPM estamos a referirmo-nos a abordagens de gestão. Neste âmbito vamos ainda encontrar duas conceções de abordagens, sendo uma mais estratégica e outra mais operacional.

A abordagem operacional é a mais generalizada e traduz-se normalmente em tarefas de levantamento, mapeamento, análise, desenho, execução e monitorização de processos de negócio. O conceito de processo de negócio é, em termos gerais, comumente aceite como sendo um conjunto de tarefas que a uma entrada faz corresponder uma saída com valor acrescentado. Como exemplo temos processo de orçamentação de um produto. Os objetivos que motivam este tipo de abordagem podem expressar-se, por exemplo, do seguinte modo: Reduzir tempo de resposta, Reduzir custos, Aumentar a eficiência, Melhorar a eficácia, Reduzir o risco operacional, Melhorar a qualidade e Assegurar o cumprimento de requisitos e procedimentos definidos nas normas de referência ou regulamentos internos. Estes objetivos são conseguidos por recurso a metodologias de melhoria de processos de negócio como as de reengenharia de processos, Lean, 6-sigma ou Kaizen e aos BPMS.

Nestas abordagens ficam por resolver questões como o alinhamento estratégico dos processos de negócio, a clarificação de responsabilidades organizacionais e individuais, a gestão do conhecimento organizacional, a problemática da governação dos processos ou a criação de um sistema único de gestão que responda aos vários referenciais normativos que a empresa pretenda adotar (em vez de integrar os vários existentes).

A garantia da implementação da estratégia de negócio e cumprimento dos objetivos e metas ficam assim maioritariamente assentes e à responsabilidade das pessoas, com o risco que tal representa, o stress que induz no dia-a-dia, a dificuldade de transmitir o conhecimento individual para a organização, a dependência da estratégia organizacional da estratégia de gestão das pessoas, fazendo do organigrama o referencial por excelência para a organização e informatização das instituições.

A perspetiva estratégica do BPM vem dar a resposta a este tipo de preocupações que tanto perturba a eficiência, a eficácia e a agilidade das empresas.

Recentemente Andrew Spanyi, reconhecido autor canadiano de livros BPM, na conferência anual BPM LISBON 2012, do IPBPM (Instituto Português de BPM), apontou como tendência de evolução das abordagens BPM a abordagem da gestão por sistemas.

Ou seja, entre a estratégia e os processos de negócio operacionais está a faltar uma dimensão que faça a ponte entre ambas. É o papel das arquiteturas organizacionais que devem constituir um modelo de referência para a melhoria contínua das organizações, colocando o organigrama no papel restrito de apoiar a gestão das pessoas.

As arquiteturas organizacionais permitem materializar a dimensão organizacional que normalmente se encontra invisível. Diz respeito às relações organizacionais, às fronteiras organizacionais, à governação organizacional, aos contextos de interpretação que suportam a comunicação e a liderança, à clarificação da estratégia e ao desempenho organizacional. Estamos assim a falar de um conceito estratégico de processo associado, não a conjunto de tarefas a realizar, mas a serviços que a organização tem se saber prestar, a capacidades de responder a estímulos ou seja a sistemas. Como exemplo de processos estratégicos associados ao processo operacional processo de orçamentação de um produto temos por exemplo Desenvolver produtos, Gerir clientes, Produzir ou Negociar com clientes. O processo operacional é transversal aos processos estratégicos. A melhoria de um processo operacional está associada à melhoria do fluxo em termos de tempo, risco e custo, por exemplo. A melhoria dos processos estratégicos está ligada à melhoria do desempenho organizacional para cumprir os objetivos estratégicos.

Uma arquitetura organizacional tem para a organização o mesmo papel que a planta ou alçado num projeto de construção civil. Traduz uma imagem e visão únicas da organização partilhada por todos, assegurando uma linguagem e ontologia comum. Com base nesse referencial cada especialidade desenha diagramas de apoio à sua missão específica, desenho de processos para a informática, desenho de processos para a qualidade, definição de funções para os recursos humanos, definição de centros de custo para o controlo de gestão, etc. (tal como num edifício existem as plantas de estruturas elétricas, de informática, de betão, de canalizações, etc..), mas com a garantia de consistência, não redundância e alinhamento.

A ausência de uma arquitetura organizacional torna a organização invisível e por isso impossível de medir ou seja de avaliar. Recorre-se então à medição e monitorização dos processos operacionais que é a parte visível da organização. Recorre-se à nomeação de gestores e donos de processos operacionais em vez de processos estratégicos, com a consequente confusão na governação das organizações e na diluição de responsabilidades, resolvidas por sobrecarga na responsabilidade e stress das pessoas.

A metodologia Mlearn, que tem vindo a ser desenvolvida pela SisConsult e pela Universidade do Minho, é um exemplo de metodologia orientada para a estratégia organizacional com base nas arquiteturas organizacionais. Estas estruturam-se em competências organizacionais.

A estratégia organizacional, e portanto as arquiteturas organizacionais, encerram um enorme potencial na melhoria da competitividade das empresas pela orientação à estratégia e ao cliente que imprimem na organização.

1 comentário:

António Ferreira disse...

Excelente artigo, conciso e esclarecedor. Presente e futuro.

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