Na implementação de
mudanças empresariais é comum ouvir-se dizer: “o nosso processo é óptimo, as
pessoas é que não o cumprem”, “o nosso sistema é fantástico, as pessoas é que
não o usam” ou “a nossa metodologia é sólida, as pessoas é que não a seguem”.
É interessante analisar
estas afirmações porque nelas está contido um conjunto de falácias comum.
Quando alguém diz que o processo da sua empresa é muito bom, mas que as pessoas
falham na implementação do mesmo, o que nos está a dizer? Está a dizer-nos que
tem dois processos: um virtual, desejado, que não passa de um projecto, e outro
real, implementado, que corresponde ao que as pessoas fazem acontecer no
dia-a-dia.
Na realidade só existe um
processo, sistema ou metodologia, que é o que resulta dos comportamentos dos
colaboradores da empresa. O outro é uma ficção. A maioria das vezes não passa
de desperdício instalado. Trata-se de investimento em tecnologia, consultoria,
formação, gestão, recursos, que foi feito mas que não é usado. As empresas estão cheias deste desperdício e – pior – orgulham-se dele. “Temos um CRM topo de gama. Só é pena que não contenha a informação que devia porque os comerciais não a colocam lá.”
Muitos gestores gostam de mostrar que são modernos e para isso seguem a tendência do momento aderindo à tecnologia ou metodologia da moda. Mas esquecem que comprar e instalar algo é diferente de o usar bem ou totalmente.
Isto é imediatamente
visível quando o desperdício consiste em matéria-prima, em energia, em recursos
humanos. Nessas situações nenhum gestor que aspire a manter a sua credibilidade
diz aos colegas: “Comprámos muito mais matéria-prima do que precisamos. É bom
ter uma folga caso o mercado nos surpreenda e seja preciso produzir mais do que
planeámos.” Ou: “contratámos mais 15% de pessoas do que precisamos para atingir
os objectivos este ano. É bom ver a fábrica cheia de gente.”
Então porque é que em
algumas áreas o desperdício se torna tão invisível? Nem tudo pode ser imputado ao
poder do marketing das empresas de consultoria, tecnologia e informação.Uma forte razão é a crença de muitos gestores de que há duas dimensões nas empresas: uma técnica e outra comportamental. Na primeira, colocam tudo o que sabem medir; na segunda, o que não fazem ideia como se mede.
Assim, a tecnologia e o
software, por serem corporizados em coisas mensuráveis, são considerados
investimento, mesmo que não sejam utilizados. Esquece-se que sem as
competências adequadas e sem a cultura empresarial propícia – somatório de
atitudes dos colaboradores da empresa – nada disso é
aproveitado.
No fim do dia, a única
empresa que temos é a que resulta dos comportamentos das pessoas na execução
das suas tarefas, sejam eles suportados em tecnologia ou não. Tudo é
comportamental, o que equivale a dizer que esse rótulo não interessa.
Gerir comportamentos é
gerir a implementação da estratégia. Os comportamentos podem sempre ser avaliados,
geridos, recompensados ou punidos, desde que sejam implementadas as
metodologias certas por pessoas qualificadas. Por não fazer ideia do que é e
como se mede um comportamento, há muita gente a “gerir” indicadores em vez de
gerir acções. No fim do ano admiram-se que os resultados não apareçam.
O mercado exige uma actualização
das competências e atitudes de quem gere pessoas. A maioria das empresas tem um
software mental obsoleto instalado na
cabeça das suas chefias, a precisar de upgrade.
Mas quem é que assina a ordem de compra desse?
* CEO da Consulting House, autor do livro A Arte de Tornar-se Inútil (www.consulting-house.eu).
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