quinta-feira, 6 de maio de 2010

Jorge Araújo - Presidente da Team Work Consultores"Só criando hábitos de excelência podemos ser excelentes"




Jorge Araújo, presidente da Team Work Consultores, foi treinador profissional de basquetebol durante quase quatro décadas, tendo conseguido por diversas vezes ser campeão na liga profissional e tendo igualmente vencido outras provas nacionais. Foi também seleccionador nacional, chegando a ser várias vezes considerado «treinador do ano». Foi durante 17 temporadas responsável técnico da equipa do Futebol Clube do Porto e três da Ovarense. Actualmente ao nível da Team Work Consultores, intervém em áreas como liderança, trabalho em equipa, motivação e superação, conduzindo seminários para gestores de topo e para quadros superiores e médios de empresas. Tem desenvolvido a actividade de 'coaching', colaborando nesse âmbito com diversas organizações nacionais e multinacionais.
Procura transpor o seu conhecimento e experiencia através dos diversos livros dos quais é autor tais como: «O Treinador na Empresa», «Dirigir Equipas, Melhorar Competências», «Como Formar a Melhor Equipa», «Liderança, Reflexões de uma Experiência Profissional», «Diário de um Treinador, o Insucesso como Meio de Aprendizagem», «Liderar para Ganhar», «Trabalho em Equipa, Moda ou Solução?» ou este «O Treinador e a Política». Ultimamente, editou, “Gerir é Treinar” e “Equipas de Alto rendimento, factores críticos de sucesso”, lançando o desafio aos líderes das empresas para que pensem cada vez mais como treinadores.
Uma vida ao serviço da formação de jovens e adultos

VE – Desde muito cedo começou a arrecadar títulos desportivos. Qual foi o seu primeiro titulo?
Como treinador de equipas federadas, o meu primeiro título foi ao serviço do C. F. Os Belenenses, enquanto responsável de uma equipa de jovens de 16/17 anos. Fomos nessa altura (1966), campeões nacionais. Para um jovem treinador, então com 24 anos, não foi uma mau começo.

VE – Considera que foi fundamental crescer num ambiente de competição para os resultados que veio a obter ao longo da sua carreira enquanto desportista/treinador?
Tudo se treina e o saber estar e ser, em enquadramentos competitivos, é fundamental para qualquer ser humano. Costumo defender que a oposição é um factor de progresso, o erro um meio de aprendizagem fundamental e o insucesso, o verdadeiro caminho que nos poderá levar um dia ao sucesso que almejamos. Só alcançaremos o êxito que perseguimos, se treinarmos quanto baste e soubermos resistir à frustração que o insucesso sempre provoca.

VE – Achas que é possível treinar uma atitude empreendedora desde a infância?
Considero que sim. Aristóteles disse há 2500 anos que a “excelência é um hábito”. Imaginem! Já nessa altura estava claro que só criando hábitos de excelência, poderíamos ser excelentes. Ou seja, pais, treinadores, professores, gestores de empresas, políticos, todos, em geral, têm de assumir as responsabilidades de, em devido tempo não terem sido capazes de criar os hábitos de excelência que os nossos jovens tanto precisam para sobreviver no mundo actual.
Entre eles, os do empreendedorismo, que tanta falta lhes fazem.

VE – Considera-se um empreendedor?
Se não fosse um empreendedor, não teria sido profissional de educação física, muito menos treinador profissional e, ainda menos, empresário a partir dos 55 anos.
Tudo isso foi alcançado “contra a maré” que tentava empurrar-me para soluções de vida bem mais tradicionais e menos empreendedoras.

VE – Desde sempre esteve ligado a vertente formativa de jovens e adultos. È a formação o melhor método para fomentar o empreendedorismo?
A palavra formação, ganhou no tempo um significado algo negativo. Associamos muito mais a formação, a uma aquisição abstracta de saber, do que propriamente ao fundamental saber fazer que é exigido a alguém empreendedor. Não me parece que alguém possa vir a ser empreendedor por via do que ainda hoje se vai entendendo ser a formação.
Já não digo o mesmo a tudo o que se refere à criação ao redor das nossas crianças e jovens de um clima de incentivo à necessidade de revelarem atitudes positivas perante a vida e as suas cada vez maiores exigências. Fomentar o empreendedorismo, exige um constante aprender a fazer, fazendo, uma descoberta continuada da novidade e do diferente, constantes tentativas e erros, não ter medo de errar nem de arriscar, curiosidade por fazer diferente para melhor, nunca duvidar das próprias capacidades, etc. E, como já o referi, não me parece que aquilo que habitualmente designamos como formação esteja a seguir tais caminhos.


VE – O nome Jorge Araujo é sinónimo de êxito no basquetebol do FCP. Terminou a sua carreira relativamente cedo. Porquê?
Desilusão e consciência que já não existiam condições no basquetebol profissional para prosseguir a carreira de treinador profissional, com a mesma paixão com que a ela me dediquei durante quase quarenta anos.

VE – Tantos anos como treinador, certamente guarda imensas recordações. Quer partilhar connosco uma que ainda hoje lhe sirva de lição para o trabalho que desempenha no dia-a-dia?
Num determinado momento em que me dirigia aos profissionais da equipa que treinava, senti que um dos veteranos da equipa procurava dizer-me algo ao ouvido. Aproximei-me dele e sussurrou-me, “Energize, do not criticize!”. E como ele tinha razão! Em vez de incentivar e apontar novos caminhos e soluções para ajudar a equipa sair do mau momento que estava a passar, estava a limitar-me a criticar sem sentido e, por isso mesmo, a acentuar a atitude negativa de alguns jogadores.
Foi uma enorme lição acerca da importância contida nas atitudes e comportamentos de quem lidera e do impacto que têm naqueles que dirigimos.

VE – É presidente e fundador da Teawork Consultores, em que consiste a actividade desenvolvida pela empresa?
Somos uma empresa especializada no treino de atitudes e comportamentos de quadros e equipas de empresas, a nível da Liderança, Coaching, Trabalho em Equipa, Comunicação eficaz, Motivação, etc. Centramos a nossa actividade no desafio aos gestores de empresas e equipas, para que pensem e intervenham cada vez mais como treinadores preocupados com a melhoria das competências daqueles que dirigem.
Assentamos o nosso trabalho, no aprender a fazer, fazendo e no jogar como se treina (treino on Job).

VE- Em que medida um treinador pode ser também um empreendedor?
Enquanto se recusar a aceitar o não ou o impossível, como algo limitativo das suas possibilidades para atingir as metas mais ambiciosas.
Um treinador tem de ser um observador da realidade que o rodeia e nela procurar encontrar a todo o momento, novos caminhos capazes de constituírem solução para os problemas com que se confronta. O que significa que o treinador tem de ser um empreendedor.

VE – Fazendo uma análise de toda a sua carreira, podemos dizer que é um empreendedor de sucesso. Como se pode tornar o empreendedorismo uma característica sustentável e com isso alcançar o sucesso?
Só é sustentável o que se transformou num hábito. O que significa portanto que, a questão central ao redor do empreendedorismo é a de conseguir que seja um hábito e não propriamente uma palavra vazia de sentido ou uma moda, como tantas outras.

VE – Existe uma relação entre a Liderança e Empreendedorismo?
Obviamente que sim! Liderar é uma responsabilidade, tal como ser empreendedor é ser capaz de liderar responsavelmente a vida respectiva, nunca desistindo, sejam quais forem as dificuldades que se levantem, sendo criativo e inovador quanto baste para preencher espaços até ao momento ainda por ocupar.

VE – Acredita no empreendedorismo por conta de outrem?
Pensar e intervir como treinador, significa acompanhar, observar, questionar, dar feedback, estabelecer planos de acção, tendo em vista que aqueles que dirigimos ganhem a autonomia necessária. Quando lidero preocupado com aqueles que estão sob a minha responsabilidade, a ponto de, por vezes, pensar mais neles, que em mim próprio, estou a dar um exemplo de empreendedorismo ao serviço de outrem.


VE – Que projectos ainda podemos esperar ver desenvolvidos pelo Professor Jorge Araújo no futuro?
A internacionalização da TW, aliás já em curso. Respondo-lhe a esta entrevista em Angola, em breve desloco-me a Moçambique e Cabo Verde, estamos em vias de ir para o Brasil.
Somos um exemplo que nada é impossível, pois quando em 1997 falámos com alguns especialistas da consultoria, acerca das hipóteses que teríamos no mercado, criando a TW, quase todos nos disseram que jamais singraríamos num mercado onde dominavam determinados grandes grupos nacionais e internacionais.
Pois aqui estamos! Mais empreendedores que nunca!


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