Primeiro, tentou a
diversificação de produtos associados à marca mas o empresário acabaria por
render-se ao revivalismo português e apostou tudo no relançamento dos ténis que
foram famosos nas décadas de 60 e 70 do século passado.
“Nunca tínhamos apostado no modelo histórico K100. No entanto face às
necessidades do mercado, em 2009 resolvemos renovar os nossos produtos e
recriamos o modelo K100”, explica à ‘Vida Económica’. Este é “um modelo
clássico, já reconhecido pelos consumidores”, e apesar de se manter o “padrão de
qualidade, refletido nas matérias-primas usadas bem como no processo de
construção vulcanizado”, os
ténis estão “melhorados e com a palmilha removível da época”.
Porém,
Paulo Fernandes acrescenta que a “Sanjo atual está
95% igual ao original dos anos 60/70”. A grande diferença é que “no passado
vivia basicamente de duas cores, branco e preto/branco” e, atualmente, existe “capacidade
de responder às exigências dos nossos clientes proporcionando um leque de
opções compreendendo mais de 40 cores diferentes”. Ainda assim, são estrategicamente
introduzidas novas cores e matérias-primas em cada estação”, reforça.
Questionado
sobre a recetividade da marca desde o seu aparecimento, o proprietário da
Sanjo, garante ter “conseguido a consolidação da Sanjo no mercado,
perspetivando uma taxa de crescimento tanto a nível nacional como a nível
internacional.” “A Sanjo é muito procurada por todas as idades. A nossa
campanha deste ano: ‘Há um Sanjo para cada pé’, invocando as cores da bandeira
portuguesa, o encarnado e o verde, tem sido um sucesso em todas as
idades”.
Consolidação da marca é a prioridade
Tendo investido cerca de 300 mil euros de capital próprio, Paulo Fernandes admite contudo que este projeto ainda não se paga por ele próprio. Na verdade, afirma o empresário, “se quisesse ter lucro imediato não podia fazer a expansão desta forma. Eu quero fazer marca. Todos trabalhamos com o objetivo de faturar mas, para já, toda a faturação e a mais-valia que daí advenha é para investir”. Nesse sentido, a marca está já a ser projetada por inúmeras figuras públicas que usam e defendem o nome Sanjo pois “identificam-se com a mesma por ser parte da sua juventude”.
“A Sanjo
tinha como projeto inicial ser uma marca portuguesa com design português e
produção nacional. Conseguimos tudo menos a produção visto se tratar de uma
técnica de vulcanização que em Portugal infelizmente não existe em nenhuma
fábrica. “No nosso país deixaram de apostar nesta tecnologia de construção de
calçado”, e por essa razão foi necessário recorrer a um fabricante chinês,
refere o gestor.
Ainda assim, a empresa não é imune às dificuldades
financeiras que o país e os portugueses atravessam. “Apesar das vendas estarem a correr bem, os empresários e os
portugueses não compram mais produto porque não têm crédito”, salienta o
proprietário da marca.
Confrontado
com o encerramento da Sanjo em 1996 devido à crise e à falta de interesse nos
ténis retro, Paulo Fernandes diz “não ter receio que tal volte a acontecer”.
Uma vez que a empresa desenvolveu um “conjunto de metodologias e processos que
nos permite olhar para o futuro com confiança”. “Não sentimos esse receio
porque ao contrário do que aconteceu no passado, estamos em permanente
renovação de matérias-primas e cores para acompanhar sempre o mercado e as tendências
de moda”.
Porém, o
futuro da marca passa pela internacionalização. “Seja para a Sanjo, ou para
qualquer outra marca portuguesa. E muito importante aumentar as exportações não
só a nível de produção como também de marcas”, assegura Paulo Fernandes
acrescentando que, numa fase inicial, a aposta recairá em países onde a
comunidade portuguesa tem maior expressão, tais como França, Bélgica,
Luxemburgo, Suíça, Alemanha, entre outros.
Paralelamente,
a Sanjo aposta também no mercado online. “Inicialmente, em 2010-2011, existiam
muitos portugueses que estavam fora e queriam ténis Sanjo. Enviavam-nos
'e-mails' a pedir o produto. Por isso, criei uma loja 'online'”. Para já, e com
a evolução da lógica de consumo, 80% das vendas 'online' são feitas por
portugueses residentes em Portugal.
No caso
da internacionalização, “alguns consumidores que compraram os ténis 'online'
trabalham na área do calçado”. “Também aqui quero fazer o processo passo a passo,
pois tenho a noção que, para um finlandês, a marca é considerada branca. Por
isso tenho de ir primeiro para países onde a comunidade portuguesa é forte”.
Mas, através do “nosso site conseguimos fazer chegar o produto ao mundo
inteiro”. Nessa “perspetiva, podemos afirmar que a marca já se encontra
internacionalizada, necessitamos somente de parceiros que a vendam diretamente
nesses países”, finaliza.
A história e o “renascimento” da Sanjo
A fábrica Empresa Industrial de Chapelaria, Ld.ª foi fundada em São João da Madeira em 1914. Em 1949 já produzia calçado com as características atuais. A marca Sanjo atravessou gerações e hoje é uma referência para a maioria dos portugueses. Porém, a marca haveria de desaparecer em 1996 com o encerramento da EIC, ditada pela crise e pela falta de interesse nos ténis retro.
A Sanjo
surge de novo em 2009. Pela mão de Paulo Fernandes a marca e patentes foram
compradas pela empresa Fersado e a marca reinventada e com um novo apelo
vintage. O seu relançamento dá-se em 2010. Apesar da imagem renovada, a Sanjo,
segue em 95% os modelos antigos, apenas com materiais mais modernos.
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