sábado, 28 de julho de 2012

Sanjo ‘renasce’ e aposta na internacionalização

Lançar uma marca própria de calçado era o objetivo inicial. Mas ao saber que a marca Sanjo estava à venda, Paulo Fernandes, administrador da Fersado, compreendeu o potencial da marca e, por isso, “a aquisição era indiscutível”. Entre a compra e o relançamento da marca passaram-se 12 anos.

Primeiro, tentou a diversificação de produtos associados à marca mas o empresário acabaria por render-se ao revivalismo português e apostou tudo no relançamento dos ténis que foram famosos nas décadas de 60 e 70 do século passado. “Nunca tínhamos apostado no modelo histórico K100. No entanto face às necessidades do mercado, em 2009 resolvemos renovar os nossos produtos e recriamos o modelo K100”, explica à ‘Vida Económica’. Este é “um modelo clássico, já reconhecido pelos consumidores”, e apesar de se manter o “padrão de qualidade, refletido nas matérias-primas usadas bem como no processo de construção vulcanizado”, os ténis estão “melhorados e com a palmilha removível da época”.

Porém, Paulo Fernandes acrescenta que a “Sanjo atual está 95% igual ao original dos anos 60/70”. A grande diferença é que “no passado vivia basicamente de duas cores, branco e preto/branco” e, atualmente, existe “capacidade de responder às exigências dos nossos clientes proporcionando um leque de opções compreendendo mais de 40 cores diferentes”. Ainda assim, são estrategicamente introduzidas novas cores e matérias-primas em cada estação”, reforça.

Questionado sobre a recetividade da marca desde o seu aparecimento, o proprietário da Sanjo, garante ter “conseguido a consolidação da Sanjo no mercado, perspetivando uma taxa de crescimento tanto a nível nacional como a nível internacional.” “A Sanjo é muito procurada por todas as idades. A nossa campanha deste ano: ‘Há um Sanjo para cada pé’, invocando as cores da bandeira portuguesa, o encarnado e o verde, tem sido um sucesso em todas as idades”. 

Consolidação da marca é a prioridade

Tendo investido cerca de 300 mil euros de capital próprio, Paulo Fernandes admite contudo que este projeto ainda não se paga por ele próprio. Na verdade, afirma o empresário, “se quisesse ter lucro imediato não podia fazer a expansão desta forma. Eu quero fazer marca. Todos trabalhamos com o objetivo de faturar mas, para já, toda a faturação e a mais-valia que daí advenha é para investir”. Nesse sentido, a marca está já a ser projetada por inúmeras figuras públicas que usam e defendem o nome Sanjo pois “identificam-se com a mesma por ser parte da sua juventude”.

“A Sanjo tinha como projeto inicial ser uma marca portuguesa com design português e produção nacional. Conseguimos tudo menos a produção visto se tratar de uma técnica de vulcanização que em Portugal infelizmente não existe em nenhuma fábrica. “No nosso país deixaram de apostar nesta tecnologia de construção de calçado”, e por essa razão foi necessário recorrer a um fabricante chinês, refere o gestor.

Ainda assim, a empresa não é imune às dificuldades financeiras que o país e os portugueses atravessam. “Apesar das vendas estarem a correr bem, os empresários e os portugueses não compram mais produto porque não têm crédito”, salienta o proprietário da marca.

Confrontado com o encerramento da Sanjo em 1996 devido à crise e à falta de interesse nos ténis retro, Paulo Fernandes diz “não ter receio que tal volte a acontecer”. Uma vez que a empresa desenvolveu um “conjunto de metodologias e processos que nos permite olhar para o futuro com confiança”. “Não sentimos esse receio porque ao contrário do que aconteceu no passado, estamos em permanente renovação de matérias-primas e cores para acompanhar sempre o mercado e as tendências de moda”.

Futuro da marca passa pela internacionalização

Porém, o futuro da marca passa pela internacionalização. “Seja para a Sanjo, ou para qualquer outra marca portuguesa. E muito importante aumentar as exportações não só a nível de produção como também de marcas”, assegura Paulo Fernandes acrescentando que, numa fase inicial, a aposta recairá em países onde a comunidade portuguesa tem maior expressão, tais como França, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Alemanha, entre outros.

Paralelamente, a Sanjo aposta também no mercado online. “Inicialmente, em 2010-2011, existiam muitos portugueses que estavam fora e queriam ténis Sanjo. Enviavam-nos 'e-mails' a pedir o produto. Por isso, criei uma loja 'online'”. Para já, e com a evolução da lógica de consumo, 80% das vendas 'online' são feitas por portugueses residentes em Portugal.

No caso da internacionalização, “alguns consumidores que compraram os ténis 'online' trabalham na área do calçado”. “Também aqui quero fazer o processo passo a passo, pois tenho a noção que, para um finlandês, a marca é considerada branca. Por isso tenho de ir primeiro para países onde a comunidade portuguesa é forte”. Mas, através do “nosso site conseguimos fazer chegar o produto ao mundo inteiro”. Nessa “perspetiva, podemos afirmar que a marca já se encontra internacionalizada, necessitamos somente de parceiros que a vendam diretamente nesses países”, finaliza.


A história e o “renascimento” da Sanjo

A fábrica Empresa Industrial de Chapelaria, Ld.ª foi fundada em São João da Madeira em 1914. Em 1949 já produzia calçado com as características atuais. A marca Sanjo atravessou gerações e hoje é uma referência para a maioria dos portugueses. Porém, a marca haveria de desaparecer em 1996 com o encerramento da EIC, ditada pela crise e pela falta de interesse nos ténis retro.

A Sanjo surge de novo em 2009. Pela mão de Paulo Fernandes a marca e patentes foram compradas pela empresa Fersado e a marca reinventada e com um novo apelo vintage. O seu relançamento dá-se em 2010. Apesar da imagem renovada, a Sanjo, segue em 95% os modelos antigos, apenas com materiais mais modernos.

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