domingo, 8 de julho de 2012

“Os modelos colaborativos são os modelos dos nossos Tempos"

O Canal 180 é o primeiro canal nacional sobre cultura e criatividade que agrega uma grande diversidade de conteúdos, da música ao documentário, passando pela arte urbana, através de uma rede internacional de colaborações. Entrevista a João Vasconcelos.

VE – O que é o Canal 180º e como funciona?
O Canal180 é um projecto media especializado na criação e distribuição de conteúdos criativos e culturais em todas as plataformas digitais. Reduzimos ao essencial tudo o que é necessário para fazer televisão. Desenhamos uma operação técnica que nos permite gerir sistemas complexos de gestão e emissão de conteúdos de forma eficiente e de baixa manutenção. Focamo-nos na qualidade da equipa editorial para produzir os conteúdos base da programação (actualidade cultural e  música) e através desse ponto de diferenciação estamos a construir a credibilidade e competitividade para desenvolver parcerias com alguns dos melhores criadores e instituições nacionais e internacionais.

VE - Como Surgiu a ideia de criar um canal colaborativo dedicado a cultura?
A ideia de criar um canal dedicado à cultura é pouco original, acho que todas as pessoas sentiam que fazia sentido. A parte de criar um canal colaborativo foi a forma de o tornar viável.

VE – Foi com a ideia do canal 180º que venceu o prémio  nacional de industrias criativas de 2010. Em que medida esse prémio foi importante para passar da ideia à prática?
O prémio foi importante para criar uma primeira rede de contactos institucionais e a credibilidade necessária para ir para o terreno começar a chatear pessoas.
VE – Arrancaram com um novo projecto, numa área em que não tinham qualquer experiência. Como foi encarar este desafio? 

O desafio foi exactamente tentar não fazer mais do mesmo, procurar novas abordagens e novas formas de produzir conteúdos, é isso que nos motiva, apesar de ser muitas vezes extenuante. Temos uma visão sobre a transformação dos media e acreditamos que a nossa principal vantagem é esta liberdade para experimentar.
VE – Quais eram os vossos principais objectivos quando lançaram o Projecto?

Dar visibilidade a uma cultura emergente que será cada vez mais importante no contexto da produção cultural e da expressão individual.

VE – Passado um ano de emissão, qual é o balanço do trabalho realizado?
Estamos só a começar. A evolução foi mais lenta do que gostaríamos porque no contexto em que arrancamos não podíamos investir na promoção do canal nem em ancoras de programação que facilitariam a divulgação. Mas a persistência fez com que sobrevivêssemos a um ano extremamente difícil. A maior parte das pessoas só este ano vai começar a ouvir falar e a ver o 180.

VE – Afirmou que o Canal 180º  É um canal “colaborativo, permeável e horizontal”. É a rede colaborativa a base do vosso modelo de negócio?
Queremos trazer também para a televisão um modelo que tem funcionado bem em muitos negócios. Os modelos colaborativos são o modelo dos nossos tempos, porque permitem maior sustentabilidade de inovação. Para além disso, no negócio dos conteúdos permitem a formação das redes de produção que são hoje essenciais para o processo de distribuição, tanto para atingir a massa critica inicial necessária, como na importância da selecção, filtragem ou curadoria (plataformas como o Kickstarter ou Behance são excelentes exemplos disto)

A maior parte dos conteúdos que nos interessam, os mais originais e inovadores que se produzem um pouco por todo o mundo, são exactamente aqueles que apesar da qualidade têm dificuldade em encontrar canais comerciais para circular. A nossa função é encontrá-los, dar-lhes uma visibilidade e um contexto que aumenta o interesse por eles. Felizmente temos conseguido a colaboração de criadores de culto como Mike Mills ou Vincent moon.
Em relação ao modelo de financiamento actual, assenta sobretudo na produção de conteúdos para parceiros institucionais e marcas.

VE – O canal 180º alargou o seu período de emissão e também viu reforçada a sua distribuição em novos operadores. Podemos dizer que estão em contra ciclo com a situação económica que o pais vive actualmente?
Como estamos a começar, só podemos crescer. O crescimento noutro contexto poderia ser mais rápido. Mas este ano prevemos duplicar a facturação do ano passado. Embora a publicidade tradicional seja muito afectada, no mundo digital por exemplo, a produção de conteúdos está a crescer e deverá continuar. Pelas competências e qualidade da nossa estrutura editorial somos muito competitivos na produção de conteúdos.

VE – Não sendo a cultura um sector base da economia, acreditam que a conjuntura económica actual pode condicionar o aparecimento de projectos inovadores como o caso do canal 180?

Nunca houve em Portugal um canal de televisão nacional dedicado à cultura e criatividade, por isso não terá apenas a ver com a conjuntura. Existem períodos de disrupção e estou convencido que vivemos um momento desses muito importante no que toca a criação artística.
VE – Que conselho daria aos empreendedores que desejam desenvolver um projecto neste momento?

Diria que a vontade de fazer é muito mais determinante do que saber tudo à partida.

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