Para o conseguir, terá de apostar nos sectores e nichos de mercado de grande potencial de crescimento em que é naturalmente competitivo, e "simplexar" e agilizar processos, aumentar a transparência e a flexibilização de modelos de controle contabilístico e jurídico-legal para captar investimento estrangeiro e apoiar o empreendedorismo.
O que é necessário para que um empreendedor possa ser bem sucedido e lucrar mesmo na crise?
Primeiro, é necessário que os empreendedores se centrem nos nichos estratégicos de Portugal, onde o país é naturalmente competitivo e em que existem maiores capacidades de internacionalização.
Em segundo lugar, há que alargar a sua base de contactos, montar e gerir uma equipa-base, multidisciplinar, de preferência, para desenvolver e aperfeiçoar as propostas de valor em torno desses sectores. Durante esse processo, deve garantir o acesso a estudos de mercado, perceber as "falhas de mercado" e as oportunidades, identificar quais são os principais concorrentes e promover questionários e conhecer muito bem a "voz do cliente", as suas necessidades e prioridades, o que lhe possibilitará desenvolver os pontos de diferenciação da sua oferta de produtos & serviços e as suas vantagens competitivas presentes e futuras. Deve testar e voltar a testar as soluções no mercado, mesmo que esteja ainda na fase de prototipagem. O cliente é sempre a melhor referência! Por fim, mas não por último, deve procurar estabelecer parcerias, com vista à melhoria do acesso a capital, à complementaridade de capacidades e de experiência, a incorporação dos business angels e de capital de risco nesta fase do negócio é fundamental, ao mesmo tempo que se optimiza a cadeia de valor e o acesso aos canais de distribuição e ao mercado.
Quais são os sectores mais competitivos para lançar um negócio?
Portugal chegou a um ponto que considero absolutamente crucial do ponto de vista económico, social e de desenvolvimento. Nas actuais circunstâncias, Portugal tem que definir, de forma absolutamente prioritária, um plano estratégico para os próximos 30 anos, que norteie as apostas sobre os principais sectores de actividade, em que é naturalmente competitivo, seja devido aos recursos naturais, à sua experiência, aprendizagem e know how ou à sua capacidade para entrar e actuar em alguns mercados. Esse plano de acção de longo-prazo deve focar-se na agro indústria, produção de citrinos, óleos e azeites, vinhos, cortiça, biotecnologia, biocombustíveis, aquacultura, têxteis, calçado, mobiliário especializado, indústria extractiva de minérios, pedras ornamentais, cerâmicas, mármores e construção aplicada, turismo de alta qualidade, de natureza e de nichos ainda pouco explorados, como o turismo-terra, turismo-mar e turismo-ar, serviços e e-business. Portugal pode gerar 300 ou 400 mil empregos nos próximos 3 anos, mas tem que "simplexar" e agilizar processos, aumentar a transparência e a flexibilização de modelos de controle contabilístico e jurídico-legal para captar investimento estrangeiro e apoiar de forma integrada o empreendedorismo, relacionando, entre outras entidades, agências de desenvolvimento, de financiamento, de apoio a patentes.
Temos gente com competências pessoais e profissionais para fazer vingar um projecto desta natureza?
Talentos todos temos, mas é preciso trabalhar muito e pô-los a render! Para as gerações futuras, o meu primeiro conselho é encontrar um programa de educação bastante prático, exigente, multidisciplinar e multicultural, em que se aprenda o que é o empreendedorismo e se desenvolva as capacidades necessárias. Quanto mais cedo esta aposta for feita, melhor, desde a escola primária, passando pela escola secundária, até às universidades.
Há um conjunto de capacidades que se deve procurar desenvolver e aperfeiçoar como criar e aproveitar oportunidades, inovar e assumir riscos, organizar, planear e decidir, fazer as coisas acontecer, aprender com os próprios erros e com os erros dos outros, inspirar, motivar e trabalhar em equipas multidisciplinares. É também importante ter um modelo a seguir que seja inspirador, ter um mentor com quem se possa conversar e confrontar as suas ideias para melhorar as estratégias, os projectos e a implementação dos negócios. E, uma última, não desistir!
Quais são as alternativas de financiamento à banca tradicional? A quem recorrer para financiar um pequeno negócio?
Portugal tem desenvolvido diversos programas de acesso a capital para as empresas start ups e PMEs como o FINICIA, o "Garantia Mútua" e o QREN. Mais recentemente, os Fundos de Capital de Risco do Compete constituem um bom instrumento para o empreendedorismo. A actuação dos Business Angels é também fundamental para o funcionamento deste ecossistema. Por outro lado, a outro nível, a Bolsa de Valores tem também promovido empresas portuguesas e internacionais, permitindo o acesso a capital. Mas é necessário melhorar, simplificar, interligar e escalar estes modelos! Os modelos de acesso a capital têm que assentar em resultados e meritocracia, caso contrário adquirem uma função de subsídio, a fundo perdido e sem retorno à vista. Deve haver uma partilha de conhecimento e de risco no negócio entre as diversas entidades. Existem exemplos de referência na área do co-investimento como os programas Techno Partners na Holanda, Innovation Investment Fund no Reino Unido e o Finnvera na Finlândia, que facilitam o acesso a pequenas quantidades de capital para micro-empresas e promovem o financiamento de investimentos e de working capital. É importante cruzar este tipo de fundos de co-investimento com sociedades de capital de risco, business angels e outras entidades, potenciando capacidades complementares e o acesso a redes internacionais. Por outro lado, a autorização de uma bolsa on-the-counter para start ups por meio de processos simples de troca de acções, bem regulados e transparentes.
Filipe Castro Soeiro, professor convidado da NOVA School of Business & Economics, especialista em inovação, empreendedorismo e em negócios internacionais, membro do Board of Directors da APBA - Associação Portuguesa de Business Angels e da GEW - Global Entrepreneurship Week, apoiada pela Kauffman Foundation, e co-autor de Lucrar na Crise.
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