O estudo, e nomeadamente as observações sobre a imagem dos vinhos portugueses, ou antes, a necessidade de evolução da mesma, quer ao nível do rótulo, quer ao nível da embalagem, foram a fonte de inspiração para um jovem estudante de Engenharia das Ciências Agrárias, com impacto na sua vida profissional e empresarial.
Estamos a falar de Cristóvão de Oliveira e Sousa, hoje com 35 anos, e a da sua empresa, a Wine Cluster.
Começando por falar do empresário, é fácil perceber a sua vocação empreendedora. Dado que, desde a conclusão da sua licenciatura na Universidade do Porto, teve apenas uma breve experiência profissional por conta de outrem, mas rapidamente percebeu que não era o caminho que o realizaria. Esta vocação é reforçada pelo seu espírito independente, gosto por assumir riscos e rebeldia própria da idade. Imbuído desse carácter empreendedor, avança para a sua primeira experiência empresarial em colaboração com outro colega. Embora não tenha corrido de acordo com as expectativas iniciais, foi enriquecedora e trouxe muita experiência.
À partida este seria um percurso improvável, dado não existir na família mais próxima a cultura do risco empresarial. No entanto, desde tenra idade, a educação e formação inclui a divisão de tarefas na casa, partilhadas por todos (Cristóvão e os 4 irmãos). Este metodologia de educação foi essencial na responsabilização dos actos, e na necessidade/gosto de fazer bem. Dos Pais, diz ainda ser a sã culpa de "enfrentar os problemas", "assumir os actos" e "respeitar o próximo". Elege da Mãe, Farmacêutica, a inesgotável perseverança; do Pai, Médico por vocação, o gosto pelo relacionamento interpessoal."
Em 2001, cria sozinho a empresa Wine Cluster. Com sede em Gião no Distrito de Aveiro, dedica-se à promoção e divulgação de vinhos de pequenos produtores do Douro e Alvarinho, junto do canal Horeca e consumidores finais, disponibilizando-se “24/7” para conforto de quem compra. Apercebe-se com o tempo que o projecto é demasiado ambicioso para a época.
Em 2004, avança para a concepção e produção de um Vinho do Porto, distinto, como advogava Michael Porter. O início deu-se com a marca Porto Solene. Com o processo de internacionalização a empresa procurou um nome monossílabo que se escrevesse, fosse dito e tivesse o mesmo significado em 5 diferentes dialectos (Português, Inglês, Francês, Alemão e Italiano).
ODE é então o nome que surge após 4 anos de pesquisas e registos, e pelo qual passam a ser conhecidos os vinhos comercializados por esta empresa. Segundo o empresário, a marca ODE, para além de reunir os pressupostos supra-mencionados, pretende igualmente ser uma homenagem ao Vinho do Porto, um tributo às gentes do Douro e um hino ao consumidor que prefere esta marca.
O Vinho do Porto ODE resume-se a dois tipos da categoria Especial “Reserva”: o Ruby Special Reserve e o Tawny Special Reserve. Este produto procura a sua diferenciação através da Qualidade e do Design, sendo que o Design é uma clara aposta e uma mais-valia na promoção e comercialização destes produtos que se distinguem claramente dos seus concorrentes, que primam por uma imagem mais conservadora e de traços comuns.
Prémios
A melhor carta de apresentação e recomendação que podem ter estes produtos é o de serem os Vinhos do Porto que mais prémios reuniu, quer ao nível da qualidade do Vinho quer sob o ponto de vista do Design do rótulo e da embalagem, tanto nacional como internacionalmente.
Tendo recebido desde 2004, 19 prémios referentes à qualidade do vinho dos quais se destacam Gold Medal para Reserve Ruby obtida na International Wine Spirits Competion no Reino Unido e as Gold Medal para Reserve Ruby e Silver Medal Reserve Tawny obtidos na Mondus Vini na Alemanha.
No que concerne ao Design e Embalagem o prémio que mais se destaca é o Gold Trophy Fine Wines & Champagne, Luxury Category, obtido no concurso Pentawards no Mónaco, um dos mais importantes e prestigiantes concurso de Design mundial.
Mercado
Apesar do reconhecimento internacional, o principal mercado tem sido português com cerca de 90% das vendas, mas tal não tem evitado as experiências internacionais, para países tão diversos como Irlanda, França, Alemanha, Itália, Bahrein e China.
Com um produto fantástico reconhecido internacionalmente é necessário acrescentar outros factores como o da promoção e distribuição para que possa alavancar o negócio.
Cristóvão de Oliveira e Sousa defende a sua estratégia, como uma aposta em nichos de mercado. Acrescentando que o seu produto é uma peça de joalharia e como tal deve ser preservado e a sua comercialização não deve ser feita de forma massiva, mas sim selectiva.
Mas a aposta deste empresário vai para o crescimento sustentado com menor risco com clientes que ofereçam garantias. Deste modo, na distribuição do seu produto privilegia o contacto directo e as recomendações dos clientes finais, considerando que estes são o seu melhor cartão de visita.
Recursos Humanos
A empresa não tem recursos humanos no quadro, como habitualmente é visto, mas tem imensos colaboradores, utilizados em todas as áreas e tarefas que não são asseguradas integralmente pelo Cristóvão Sousa, como a produção, design, distribuição e suporte informático. Este modelo de gestão cria uma enorme flexibilidade da gestão do negócio.
Comecei por definir o responsável desta empresa como empresário, mas é mais do que isso, é uma way of life. De alguém que faz o que adora e que desenvolve um produto com o qual se identifica.
Projectos para o futuro
A fonte de inspiração para novos negócios surge claramente das suas origens, criado num ambiente típico de aldeia, e o querer valorizar aquilo que é tipicamente português em especial da Região do Douro.
Dos projectos e ideias que tem em mente, o que está a um passo de ser concretizado - data prevista de abertura no 1º trimestre de 2011 - é a criação de uma Casa de Vinhos e Mercearia Fina. O conceito assenta numa oferta distinta, eclética e criteriosa de vinhos nacionais, acompanhados de petiscos à base de produtos regionais, “cheios de qualidade rural” como o pão, azeite, doces, enchidos, queijos, etc. Paralelamente, todos os produtos serão passíveis de venda ao público, na zona de mercearia Fina.
Esta casa está localizada no nº 7 e 8 do Largo do Terreiro, à Ribeira, na zona histórica da cidade do Porto junto ao Rio Douro, podendo avistar-se uma paisagem de sonho a partir do 1º andar deste edifício. Os argumentos são muitos para que este possa ser um projecto de sucesso.
Outros projectos que nas palavras do responsável da wine cluster “aguardam oportunidade” são a criação e lançamento de um Vinho do Douro com as mesmas características de excelência do Vinho do Porto e uma aposta na agricultura, com dois tipos de cultura de enorme potencial no nosso país, mas cujo segredo não nos quis revelar.
Análise:
Pontos Fortes:
- Flexibilidade. O modelo de negócio sobre o qual assenta esta empresa permite uma enorme flexibilidade e capacidade de resposta às necessidades do mercado.
- Grande nível de notoriedade e distinção do produto.
- Estratégia de crescimento a médio e longo prazo e os novos projectos que estão a nascer.
Pontos Fracos:
- O facto de querer tudo controlado ao pormenor de acordo com a sua concepção, e a tendência para a perfeição, leva este jovem empreendedor a ser demasiado centralizador, e a tornar-se um verdadeiro one-man-show, o que em algumas circunstâncias pode ter um efeito inibidor no desenvolvimento do negócio.
Comentário - Fernando Leite - CEO LIPOR
Muito interessante percurso de vida, com “contágio” familiar que robustece o Empreendedor. Sendo um “case” português, o produto “vinho” aparece como atractivo.Entretanto nomearia no Negócio, as questões diferenciadoras que são a alavanca do seu sucesso: a Qualidade da matéria-prima, o cuidado no “fabrico”, a atenção ao Marketing, a procura da notoriedade, o posicionamento de Mercado, o controlo completo da Cadeia de Valor, e a estratégia de crescimento, com novos produtos.
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