O mercado de trabalho tradicional pode estar à beira da auto-destruição e são os jovens desempregados que vão ter de sacudir os estilhaços. João Seabra e Marta Vaz não se arrependeram de ter deixado os seus empregos para se aventurarem na criação de empresas. O empreendedorismo pode ser a alternativa do futuro. Saiba como e porquê.
João Seabra era professor do primeiro mestrado português em animação a três dimensões, na Universidade Católica, quando decidiu criar a Jump Willy, nessa mesma área. A vertente comercial do que ensinava sempre o fascinou. Após muita insistência de Pedro Marques, compositor musical a trabalhar na Holanda, decidiu arriscar.
Durante um ano, partilharam a empresa com a vida profissional mas, em 2009, acabaram por se despedir. O empreendedorismo estava na génese e hoje a Jump Willy exporta 70% da sua produção, sendo que a parte de composição musical tem sede em Los Angeles. João Seabra é apenas um dos jovens portugueses que resolveu sair do mercado tradicional de trabalho para se lançar numa aventura com riscos, mas vitoriosa. Com a informação certa, quantos mais verão no empreendedorismo uma oportunidade?
A Youth@Work é a nova acção da Comissão Europeia de combate ao desemprego. Objectivo: informar e encorajar os jovens a criarem o seu negócio e a desenvolverem-no. De acordo com os dados mais recentes do Eurobarómetro, existem cerca de cinco milhões de desempregados entre os 15 e os 24 anos na União Europeia. Apenas 2,5% dos jovens até 25 anos que trabalham, fazem-no por conta própria e 51% dos portugueses gostaria de criar o seu emprego.
Em Portugal, Aveiro foi a cidade anfitriã da iniciativa, a 22 de Outubro. O Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) é a entidade responsável pelo evento que se aliou aos "Dias Europeus do Emprego", nos quais já participaram 35 mil pessoas.
"A internacionalização é hoje imperiosa, seja em contexto empresarial ou de mercado de trabalho, e muitas das competências subjacentes a um espírito empreendedor têm de estar presentes num projecto de mobilidade, como o espírito de iniciativa, curiosidade, criatividade, auto-confiança, empenhamento e perseverança", afirmou ao Negócios Francisco Madelino, presidente do IEFP.
A campanha Youth@Work está integrada na iniciativa europeia "Juventude em Movimento", que visa melhorar os sistemas educativos europeus e incentivar a entrada dos jovens no mercado de trabalho. Propõe reformas na educação e formação nacionais, para adequá-las às necessidades dos empregadores e tornarem-se mais atractivas para os jovens; fomentar o empreendedorismo e incentivar os Estados-membros a tomarem medidas de luta contra o desemprego juvenil.
Capitalizar o investimento na educação
A Juventude em Movimento é, segundo Francisco Madelino, uma das "iniciativas emblemáticas" da ‘Estratégia Europa 2020’ para o crescimento. Objectivo: reduzir a taxa de abandono escolar de 15% para 10 % e aumentar o número de jovens com educação universitária de 3% para, no mínimo, 40% até 2020. "A melhoria das competências e qualificações dos jovens desempenhará um papel essencial na realização de outro objectivo: integrar no mundo laboral 75% da população com idades compreendidas entre os 20 e 64 anos", acrescenta. Além de constituir um investimento na economia do país, o empreendedorismo é, segundo Francisco Madelino, uma forma de aproveitar e capitalizar o investimento em educação, formação, ciência e tecnologia. "É com a qualificação e o empenho dos jovens que se alcançará a retoma necessária ao crescimento económico do nosso país."
Francisco Balsemão, presidente da ANJE – Associação nacional de Jovens Empresários, destaca que uma das suas prioridades é a de divulgar o conjunto de apoios que detêm à criação de empresas. "Temos defendido a criação de um novo enquadramento dos sistemas de incentivo para jovens empreendedores. Recomendamos a necessidade do financiamento público abarcar despesas elegíveis imputáveis, desde a formulação da ideia empresarial à sua concretização, passando pela elaboração do plano de negócios." Para o líder da ANJE, os apoios financeiros devem ser conferidos inicialmente, "para não matarem à nascença a pulsão empreendedora de muitos dos nosso jovens".
Para se ser empreendedor não basta ter boas ideias e voluntarismo em doses generosas." Francisco Balsemão aponta a determinação, espírito de sacrífico, ousadia, persistência e imaginação como as características mais importantes dos dias de hoje. Quem quiser criar e gerir uma empresa precisa de ter qualificações que lhe permita enfrentar os desafios correntes da transição de uma sociedade industrial para uma sociedade em rede e do conhecimento.
"A isto se chama ‘empreendedorismo qualificado’, na medida em que assenta não apenas nos traços de personalidade, mas também na sua estrutura intelectual ou cognitiva." E acrescenta: "em contextos de retracção do mercado de emprego, o empreendedorismo é fundamental para contrabalançar os postos de trabalho perdidos e fomentar a integração e mobilidade laborais."
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