domingo, 6 de novembro de 2011

”Temos produtos de todo o país e damos preferência a produtores mais pequenos"

Normalmente só valorizamos o que temos quando o perdemos. Foi isto que aconteceu com Adriano Ribeiro, piloto de aviões que por algum tempo viveu fora do país. Nessa altura sentiu falta de alguns produtos tipicamente portugueses.
Esta necessidade e a consciência que alguns produtos tradicionais de outros países tinham um mercado atractivo deram substancia a uma ideia que já há algum tempo andava a germinar na cabeça de Adriano – Criar uma gama de produtos típicos de qualidade com uma imagem moderna e apelativa. Nasce assim a José Gourmet em meados de 2008.

O arranque desta aventura aconteceu com um produto de Azeitão porque havia um amigo produtor. A mais recente aposta desta empresa foi nas conservas portuguesas. ARTE foi o nome escolhido para a colecção de latas de conservas de formato tradicional mas com uma imagem contemporânea.
O ilustrador Gémeo Luís, que desde o início tem colaborado com Adriano Ribeiro no desenvolvimento da imagem dos produtos, desafiou 11 colegas a reinventar a imagem das latas de conserva. Ao designer residente associaram-se André Letria, Marta Madureira, Cristina Valadas, Teresa Lima, Madalena Matoso. Juntos decoram as «velhinhas» latas de conserva transformando-as em produtos do século XXI.

Mas a este projecto juntou-se também o Chef Luis Baena que preparou receitas, para adultos e crianças, que acompanham as conservas, revelando métodos de utilização das sardinhas, lulas, atum em conserva. «O Chefe Luís Baena tem conhecimentos alargados sobre este sector», comenta Pedro, filho de Adriano e que é actualmente o responsável pela empresa, uma vez que Adriano mantém a sua profissão de aviador.

Mas esta reinvenção dos produtos nacionais, não se limita aos queijos ou às conservas. Também as garrafas de azeite, vinagres e licores são empilháveis. Com o fundo oco, encaixam umas sobre as outras através dos gargalos. «Acho que é importante mostrar que com alguma inovação é possível fazer coisas diferentes como que é português», reflecte Pedro Ribeiro.

A actividade da empresa concentra-se única e exclusivamente ao desenvolvimento da embalagem e imagem dos produtos e a comercialização dos mesmos. O sucesso deste negócio está em primeiro lugar na qualidade dos produtos e na relação estabelecida com os diferentes produtores. «Temos produtos de todo o país e damos preferência a produtores mais pequenos», diz Pedro Ribeiro. «Por exemplo nos vinhos trabalhamos com produtores com baixa produção, que têm dez a 20 mil garrafas por ano. Assim temos um produto quase exclusivo», acrescenta o empresário.

Esta é uma parceira vantajosa para ambos, pois garante qualidade e exclusividade à marca, maspermite também que os produtores consigam colocar os seus produtos em novos mercados onde de outra forma não seria possível.

A estreita relação entre a JoséGourmet e os seus fornecedores/parceiros também se dá ao nível do desenvolvimento de novos produtos permitindo também aos próprios fornecedores a utilização deste know-how nas suas marcas próprias.

Os produtos JoséGourmet estão presentes em mercearias finas de todo o país, onde a qualidade e originalidade é um factor distintivo. “Preocupamo-nos em ter o melhor. Mesmo que as margens de lucro ainda sejam pequenas. Seguimos a política do fair trade [comércio justo].” Afirma Adriano Ribeiro.

O mercado preferencial é mesmo o mercado externo onde está a saudade do que é português e também o maior poder de compra. .Neste momento já estão na República Checa e no Luxemburgo. Sob a designação “Take way Portugal” são exportados queijos, azeites, vinagres, vinhos, licores, conservas, compotas e outros. “Queremos dentro da marca Take away Portugal criar take away açores, take away douro. Enfim para aplicar a marca às diferentes regiões e dentro dela incluir todos os produtos de cada região» afirma Pedro.

Três questões a Adriano Ribeiro

VE - Que projectos tem a joseGourmet para o futuro? Dentro da JoseGourmet estamos a desenvolver novos produtos e alargar a rede de vendas. Começamos a exportar este ano e já estamos presentes em 8 países. Vamos internacionalizar ainda mais. Vender até à exaustão e ter uma trading de produtos de Portugal é o nosso objetivo. Vender em hotéis de uma forma inovadora desenvolvendo conceitos de venda integrados.

Fora da JoseGourmet vamos participar em novos projetos no desenvolvimento de novos negócios na área do merchandising e design e de Portugal aproveitando as enormes oportunidades de termos um DNA próprio à 500 anos. Em breve vamos participar num novo negócio original de grande potencial. À semelhança do que fizemos com as conservas pretendemos desenvolver estratégias blue ocean para outros setores de atividade. Sabonetes, lápis, cortiça, mobiliário, joalharia são exemplos de áreas onde poderemos estar no futuro como consultores e promotores.

VE - De que forma a situação de crise profunda que vivemos actualmente no nosso pais de atinge o vosso projecto e os vossos planos para o futuro?
Mantemos a crise fora do pensamento. Estamos a triplicar vendas e com crescimento exponencial. Estamos no sítio certo à hora certa. Comprar Portugal, qualidade, produtos artesanais, comercio justo, generosidade, design, inovação, não vivermos de subsídios nem os procurar, são conceitos nossos desde sempre e agora valorizados. O mundo não vai voltar à idade da pedra. Vemos oportunidade de reinventar e criar valor em muitos negócios. É nisso que concentramos a nossa energia.

VE - Que conselhos daria aos que agora são obrigados a empreender para poder ultrapassar esta situação que vivemos?
Empreender é stressante e gratificante. Muitos empreendedores 'forçados' vão ser muito felizes no futuro. Viajar, ganhar mundo, observar, estudar, trabalhar muito, envolver novas pessoas (ganhar escala) são algumas das coisas que praticamos, recomendamos aos nossos filhos e poderíamos recomendar a todos...

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