quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Inovar ou não inovar

As estatísticas não são concordantes no que toca à classificação de Portugal como país inovador. O mercado pede mais inovação para garantir a sua sustentabilidade e os empreendedores debatem-se com o dilema dos apoios.

Portugal é muitas vezes referido como um país de inovadores, mas pôr em prática essas inovações nem sempre é tarefa fácil num ecossistema em que ainda existe muita dependência da máquina governativa. «Criou-se uma dependência do Estado para toda e qualquer actividade económica, a qual não é promotora de inovação ou empreendedorismo, e da qual temo que levemos mais de uma geração a livrar-nos», constata Pedro Vilarinho, CEO da Act (COTEC's Technology Commercialization Accelerator) na COTEC Portugal.

O caminho a seguir, segundo o CEO, é progredir, criando as condições para que as pessoas se tornem mais empreendedoras. «Se somos inovadores e empreendedores, é importante sê-lo muito mais e ajudar a criar mais valor do que o que se tem feito até agora», recomenda o responsável.

A questão do financiamento é também um handicap que tem de ser contornado, mas que Pedro Vilarinho diz não ser determinante. Os bons projectos «encontram sempre financiamento», mesmo numa época em que o crédito está mais restringido e em que a fasquia é mais elevada. «Para as startups, o financiamento junto da banca não é uma opção muito normal; os empreendedores devem procurar alternativas junto das capitais de risco e de investidores provados», aconselha o especialista.

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Os programas e concursos de inovação também são uma parte importante na promoção do empreendedorismo de base tecnológica, e podem abarcar as várias perspectivas do processo.
O Programa COHiTEC é um dos que de algum modo têm desempenhado um bom papel nesta área. Criado em 2004, no Porto, o objectivo principal deste programa é valorizar boas ideias e a investigação que é realizada nos institutos de I&D nacionais, de forma que a ciência de qualidade possa chegar ao mercado e permita a criação de empresas de elevado potencial de crescimento. Assim se gera valor, se cria emprego científico e se faz a diferença em Portugal.

Equipas multidisciplinares
O programa é realizado em colaboração com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), o Centro HiTEC da North Carolina State University, a EGP-University of Porto Business School, (EGP-UPBS), a Escola de Negócios da Universidade do Porto e o ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), que são os dois palcos onde se realizam as sessões semanais do COHiTEC. No caso da EGP-UPBS, há ainda o envolvimento de estudantes do MBA, que integram as equipas do programa.

«Participam no COHiTEC equipas multidisciplinares, constituídas por investigadores, proponentes das tecnologias, e estudantes de gestão e executivos, que apoiam o processo de comercialização», revela Pedro Vilarinho.

Fases do projecto de Acelerador de Comercialização

Programa COHiTEC – Acção de formação para avaliação do potencial comercial das tecnologias. Act to Prove – Desenvolvimento da prova de conceito tecnológico. Os projectos podem manter-se nesta fase dois anos, obter um financiamento do FCR Inovcapital ACTec de até 300 000 euros e beneficiar do apoio da equipa executiva do Act da COTEC.
Act to Enhance – Desenvolvimento de um plano de negócios “investment ready”, isto é, pronto a ser apresentado a investidores. Nesta fase, as equipas têm acesso ao Fundo IAPMEI, que financia esta etapa até aos 75 000 euros.
Act to Add Value – Fase de negociação com os investidores ou licenciadores (caso se pretenda licenciar a tecnologia, e não criar uma startup). Esta fase é apoiada pela COTEC, contando com o networking e a experiência que esta instituição possui neste tipo de processos.
Durante quatro meses, estas equipas têm sessões semanais nas quais adquirem competências na área de comercialização de tecnologias, e simultaneamente avaliam o potencial comercial dos produtos ou serviços que podem ser gerados a partir das tecnologias propostas pelos investigadores. Na sessão de encerramento do COHiTEC, as equipas apresentam os projectos de negócio desenvolvidos ao longo dos quatro meses do programa.

A edição deste ano (2011), que terminou há poucos dias, foi a oitava deste programa, que desde 2005 se passou a realizar em torno de dois pólos: «De forma a potenciar a participação de investigadores do maior leque possível de institutos de investigação, decidiu-se realizar o Programa COHiTEC em duas regiões geográficas: em Lisboa e no Porto», justifica Pedro Vilarinho. Segundo este responsável, na edição do Porto costumam participar também investigadores de outras universidades do Norte e Centro do País, como Aveiro, Coimbra e Minho.

Pedro Vilarinho revela que até à data participaram neste programa um total de 92 projectos, apresentados por 284 investigadores, que contaram com o apoio de 155 estudantes de gestão e de 96 mentores. Os participantes no COHiTEC criaram 26 empresas, 13 das quais tiveram como base a tecnologia e o projecto de negócios saídos deste programa. «Duas dessas empresas percorreram todo o trajecto até ao mercado com apoio da COTEC, nomeadamente a CEV-Consumo em Verde, que produz um fungicida natural de elevada eficácia, e a Advanced Cyclone Systems, que produz ciclones para filtragem de partículas», referiu o responsável. O valor do investimento contratualizado nessas duas empresas foi de 13,9 milhões de euros, um valor que Pedro Vilarinho considera «muito alto e invulgar» quando estão em causa startups.

12 projectos concluem COHiTEC
Em 2011, o programa foi co-financiado pelo ON.2-Programa Operacional Regional do Norte, obteve o patrocínio do IAPMEI e da InovCapital e contou com a participação de investigadores das universidades de Aveiro, Coimbra, Lisboa, Nova de Lisboa, Técnica de Lisboa e Católica Portuguesa, bem como da Clínica Médica St. António Joane, do Grupo de Investigação 3 B’s, do Instituto de Medicina Molecular, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e do Instituto Neurociências. Na elaboração dos projectos de negócios colaboraram também estudantes de gestão da EGP-UPBS e um grupo de tutores composto na sua maioria por antigos alunos do programa.

Neste ano, o programa envolveu 14 projectos (sete no Porto e sete em Lisboa), sendo que 12 deles concluíram com sucesso o COHiTEC e foram apresentados nas sessões finais. Questionado relativamente às fases que o projecto passa até concluir o programa, Pedro Vilarinho explicou que para um projecto concluir com sucesso o COHiTEC, e prosseguir pelas seguintes fases do Acelerador de Comercialização de Tecnologias (Act) da COTEC, chegando ao mercado, há diversos factores envolvidos, entre os quais se destacam dois: a qualidade do projecto, no que diz respeito à qualidade científica e sobretudo à oportunidade de mercado que o produto proposto representa, e a qualidade da equipa, que necessita de muito trabalho árduo, motivação, perseverança e coesão.

Os 12 projectos que concluíram o programa em 2011 e cujos autores desejam prosseguir através do processo de comercialização de tecnologias proposto pelo Act têm se passar à fase seguinte: a demonstração da prova de conceito tecnológica. De acordo com Pedro Vilarinho, os projectos que agora terminaram o COHiTEC podem candidatar-se à fase do programa Act to Prove. Para isso, têm de demonstrar que possuem uma licença de utilização da propriedade intelectual subjacente ao projecto e participar numa reunião de análise do modelo e do projecto de negócios proposto. Nesta reunião colaboram vários executivos que ajudam a COTEC na avaliação do projecto e contribuem para uma definição do caminho a seguir para o seu desenvolvimento.

Para 2012 está já prevista a realização da 9ª edição do Programa COHiTEC. As candidaturas abrem no próximo mês de Novembro e são realizadas online no site www.actbycotec.com.

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