quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Empreendedorismo e Crise - Duas palavras que andam juntas.


Quanto maior é a crise mais os empreendedores reforçam o seu lado irreverente de pessoas que arriscam quando poucos o fazem e que confiam quando todos abrem o livro do pessimismo. Isso acontece quando implementam e dão corpo aos seus projectos, avançando para o terreno no meio do olhar duvidoso dos outros que olham para eles como se fossem uns loucos. Este, é de facto, o termo mais correcto. É preciso uma boa dose de loucura para se ser um empreendedor.

Tenho ao lado da minha secretaria um único post it que tem uma expressão do líder da Apple – Steve Jobs. A frase é – ‘Mantém-te faminto. Mantém-te tolo.’ Olho para ela em dois momentos muito importantes. Quando a nossa equipa tem sucesso, para que o conforto não se instale ao mesmo tempo que nos relembra que os nossos sonhos fazem-nos sentir ‘fome’ por mais. Quando estamos a viver momentos mais apertados, para que os nossos pensamentos negativos possam ser substituídos pela força de acreditar e continuar a arriscar. Este post it acompanha-nos há cerca de três anos, e com ele vivemos o pior e o melhor. A vida é assim. Os negócios são assim. Os mercados, cada vez mais, funcionam assim. Para sobrevivermos neles temos de ter um pouco destas duas características. Fome por mais e tolice suficiente para fazermos coisas que outros não pensaram fazer antes, ou não têm a audácia para as construir. Simplesmente porque entenderam, ou alguém os convenceu disso, que era tolice a mais. A experiência dos maiores empreendedores que conhecemos na história dos negócios contam-nos sempre a mesma situação inicial quando nasce uma ideia ou projecto na sua cabeça e estes são partilhados – os outros dizem para não avançares? Então é altura de o fazeres!

Num ano em que todos falam de crise vai acontecer aquilo que acontece em todas as crises. Uns vão fazer dela uma oportunidade, outros vão sentir-se ameaçados, lamentarão o mundo que eles próprios ajudaram a criar ou ficarão enclausurados nas trincheiras á espera que o ‘fogo’ passe. Como dizia um consultor que ouvi numa conferência em 2008 – ‘Na crise uns compram lenços para chorar. Outros vendem-nos.’ Após esta expressão acrescentou – cabe a cada um de vocês decidir em que lado é que quer ficar...

Quando fiz formação com os militares que protegem a Selva da Amazónia, uma das primeiras coisas que nos ensinaram foi uma cantiga militar a qual tinha uma mensagem forte – “Na selva não sobrevivem os mais fortes. Sobrevivem aqueles mais sóbrios, habilidosos e resistentes.” Num mundo em que vivemos, em que a economia aproxima-se do comportamento do clima, ou seja, as tempestades (crises) são cada vez mais frequentes e devastadoras, esta expressão reforça a importância de todos nós termos um perfil de empreendedor – sabermos claramente para onde vamos, habilidade para sairmos do padrão convencional e inovarmos, capacidade para resistirmos e ultrapassarmos as situações adversas.

No empreendedorismo a palavra crise é frequentemente substituída pela vontade de criar coisas novas. Parece que o empreendedor tem um jeito especial para retirar a letra ‘R’, transformando a palavra ‘crise’ na palavra ‘crie’. Esta é a palavra de ordem para quem quer ser empreendedor em tempos como este.

Parece mais fácil falado ou escrito, mas na realidade não é tão difícil quanto isso. Por exemplo, recentemente, foi feito um estudo que analisou o perfil de líderes empreendedores de empresas conhecidas como a Google, Apple ou a Virgin, entre outros. Os resultados desta análise levou os investigadores a concluir que o seu comportamento se assemelhava ao de uma criança – curiosidade pelo desconhecido e pelo novo; vontade de experimentar; atenção a tudo o que é diferente; gosto e prazer de jogar ou brincar com coisas sérias; capacidade para colocar perguntas difíceis e que colocam em causa a existência das coisas e o status quo; imaginação sem limites ao ponto de fazerem ligações entre coisas ou temas muito distintos e vontade de experimentar. Todas estas características permitem-nos perceber a velocidade enorme de aprendizagem e adaptação que estas pessoas manifestam.

Mas nem tudo são boas notícias. Se é verdade que estas qualidades levam os empreendedores a superarem-se em momentos complicados e a fazerem coisas que a maioria das pessoas duvida ser possível realizar, estas características levadas ao extremo acabam por ditar o final do caminho a alguns empreendedores. A determinação que os move, por vezes, é tão grande que se torna cega, incapaz de ler e interpretar os sinais da realidade. O seu optimismo e confiança transformam os sinais ameaçadores em mais uma motivação ou oportunidade para resolverem um desafio. Um empreendedor gosta de jogar, e por isso entra facilmente numa espécie de competição que o apaixona, mas que é ao mesmo tempo viciante – quanto mais tem sucesso mais quer repetir a sensação de lá chegar e a adrenalina do caminho que é preciso percorrer. Alguns não conseguem regular este impulso e ‘vão a jogo’ mesmo quando deveriam ficar de fora. O ego fala mais alto que o próprio desejo de tornar o sonho numa realidade. Este acto individualista acaba por trazer maus resultados para as suas ideias, projectos e equipas que transformam palavras e promessas em coisas tangíveis.

É caso para dizer que o empreendedorismo e a crise são duas palavras que andam juntas, seja numa perspectiva positiva ou negativa.

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