Recentemente, a revista Forbes publicou a lista dos homens mais ricos do mundo. Uma olhada rápida e podemos perceber que a maioria dos bilionários são empreendedores. Entre os 30 brasileiros, metade deles são donos dos seus próprios negócios. A característica dessa lista nos leva facilmente a generalizar a conclusão de que as pessoas escolhem o empreendedorismo como uma forma de ficar rico.
Estudos acadêmicos de todo o mundo mostram que essa ideia é equivocada e que, na verdade, os verdadeiros empreendedores estão em busca de outras realizações. O que percebemos é que os empreendedores brasileiros podem ser classificados em quatro tipos na sua relação com o dinheiro:
1) O empreendedor por necessidade, aquele que precisa do dinheiro para sobreviver, não encontra outra forma de remuneração por dificuldades para se inserir no mercado de trabalho e acaba adotando o caminho do empreendedorismo como forma de se sustentar. Geralmente, esses empreendedores não desejariam ter um negócio próprio se pudessem escolher. Sua taxa de mortalidade é alta, pois ou o empreendedor abandona seu negócio na primeira oportunidade de emprego que aparece ou acaba quebrando mesmo por falta de competência, de estrutura ou porque a oportunidade não era sustentável ao longo do tempo.
Existe uma dualidade na percepção de valor do dinheiro para esses empreendedores. Ou eles se classificam como os artistas que veem em sua atividade uma necessidade para sobreviver, mas dão importância a coisas mais “nobres” na vida, enquanto existem outros que gostariam de ganhar mais dinheiro e conseguir respirar um pouco, mas não conseguem por pura falta de competência. Estes precisam se contentar em conseguir terminar mais um dia sem passar fome. Nessa categoria se encaixam os empreendedores autônomos, artistas e alguns profissionais liberais, microempreendedores e empreendedores informais.
2) O empreendedor pós-sobrevivência. Trata-se daquele que começou como empreendedor por necessidade e consegue superar o sufoco dos primeiros anos, quando a instabilidade é alta, e a fragilidade, também. Normalmente às duras penas, esses empreendedores conseguem estabilizar seus negócios e atingir um nível de volume de negócios que lhes garante um ganho mínimo sem sobressaltos. Esses empreendedores têm medo de que seu negócio saia do controle. São traumatizados pelos primeiros anos de vida do empreendimento, passaram por muitas dificuldades e respiram com alívio a estabilidade adquirida.
Apesar de os empreendedores normalmente serem conhecidos pela predisposição para assumir riscos, esse tipo de empreendedor não tem a mesma propensão. Para ele, perder o negócio é um risco proporcionalmente muito grande e, por isso, ele se contenta em ter uma empresa pequena, mas que ele consiga controlar e manter. Para eles, o negócio é um meio de vida e não vemos neles muitos arroubos de crescimento. Os pequenos negócios de sobrevivência, como mercadinhos de bairro, postos de gasolina, lojas de varejo, salões de cabeleireiro e outros, se encaixam nesta categoria.
3) O empreendedor por oportunidade é aquele que, embora bem empregado e com ótimas perspectivas de carreira no emprego tradicional, identifica uma oportunidade e cultiva há tempos o sonho de empreender e ser o dono do próprio nariz. Eles normalmente se prepararam bem antes de se lançarem como empreendedores. Adquirem formação específica, ficam sempre de olho nas janelas de oportunidade, se mantêm sempre informados, acumulam capital e, quando chega o momento, largam o emprego para perseguir seus sonhos. A taxa de mortalidade desses empreendimentos é baixa porque os riscos proporcionais são bem menores do que os empreendedores por necessidade. A relação com o dinheiro que eles constroem varia em função de outros elementos que lhes dão satisfação, como equilíbrio de vida, hobbies e passatempos, família, viagens, prazer do trabalho, experimentação de coisas diferentes, vida social, entre outros. Para esses empreendedores, o dinheiro é bem-vindo sempre e cada vez mais, porém sua importância cai na medida em que ele atinge uma remuneração que lhe dá um bom padrão de vida, a ponto de ele poder se concentrar em outras coisas que lhe dão satisfação.
O sucesso, para esses empreendedores, não é exclusivamente o financeiro, e sim o equilíbrio propiciado por outras conquistas, nas quais o dinheiro é apenas um desses componentes. Esses empreendedores querem que seus empreendimentos cresçam, mas não muito. Não se veem como donos de empresas gigantescas, das quais acabarão se tornando escravos. Ao contrário, preferem se manter como médias empresas em um crescimento orgânico, mas excelentes em seus campos de atuação. Por isso mesmo, esses empreendedores não se dão muito bem com investidores de risco, pois invariavelmente seus objetivos entram em conflito. Enquanto o investidor quer ganhar muito dinheiro e rápido, o empreendedor troca facilmente seus objetivos de maior ganho por uma causa social ou um bem maior que o seu negócio pode gerar. Para eles, empreender é um estilo de vida, e não uma forma de enriquecer. Entram nessa categoria empresas de tecnologia, serviços baseados em capital intelectual, negócios com médio a alto grau de inovação e nichos de mercado de alto padrão.
4) Empreendedores de alto crescimento. Esses são os que querem sair na lista da Forbes. Para esses empreendedores, não há limite para crescer. Querem crescer muito e rápido. Representam o objeto de desejo de grandes investidores, pois compartilham os mesmos objetivos e reconhecem os demonstrativos de resultados como o principal, senão o único, parâmetro de desempenho. Esses empreendedores abrem mão de muita coisa para se dedicarem aos seus negócios. Procuram estar sempre bem relacionados com pessoas de poder, valorizam o prestígio e são vaidosos. Para eles, não há outro objetivo em ter um negócio senão a de proporcionar a liberdade de comprar tudo que de bom e de melhor o dinheiro possa obter e acreditam fielmente que o dinheiro pode tudo em uma sociedade capitalista.
Há quem questione esses empreendedores e seus valores e princípios, mas há uma grande quantidade de pessoas que se espelha em seus exemplos e cultivam os mesmos valores e objetivos. A mídia especializada trata de reforçar a mitificação destes empreendedores, dando ênfase e importância às suas histórias de vida e realizações, levando a uma questionável concepção do que é ter sucesso na vida. Nessa categoria está qualquer tipo de negócio, desde que seja grande ou esteja na rota do alto crescimento.
* Marcos Hashimoto é professor de empreendedorismo do Insper, consultor e palestrante
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