"Dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo", disse o génio Arquimedes em Siracusa, colónia grega, há mais de 2000 anos. Mas o simples princípio das alavancas e roldanas compostas é também na Física, na Economia e nas Ciências Sociais e Humanas e, mais ainda, é absolutamente prioritária a sua implementação prática, por intermédio da inovação e do empreendedorismo, para fomentar o crescimento económico, o emprego e a internacionalização.
É conhecido o fenómeno do "tipo ondulatório", quando se estuda a avaliação dos efeitos diretos e indiretos da formação de novos negócios e de startups na evolução do emprego regional durante um período de tempo, que é explicado por um conjunto de fatores.
Em primeiro lugar, por causa dos time lags ou desfasamentos entre as medidas implementadas relativamente ao impacto na formação de novas empresas startups e os efeitos visíveis e mensuráveis, no que respeita ao crescimento do emprego e do aumento da competitividade.
Em segundo, porque existem fatores positivos e negativos que afectam o fenómeno. No que se refere aos fatores positivos, por um lado, as novas startups estimulam e promovem a introdução de produtos e de serviços inovadores, conduzindo à comercialização da inovação, à economia do conhecimento e ao crescimento económico sustentável.
Em terceiro lugar, os ciclos de melhoria podem ocorrer em ambos os lados, quer no que se refere aos "novos entrantes", quer no que respeita às empresas dominantes e incumbentes, que reagem ao acréscimo de competição gerado pelas startups inovadoras.
Existem também efeitos indiretos do lado da oferta ou spillovers, que as novas empresas geram no mercado, contribuindo para o aumento da inovação e da concorrência e produzindo resultados em termos de criação líquida de emprego. Os efeitos podem também ser nulos, quando existe uma "mera substituição" dos empregos existentes por novos, havendo como que uma regeneração do fenómeno, ou podem mesmo ser negativos porque os produtos e serviços, e, muitas vezes, os modelos de negócio mais inovadores, implicam maior risco, e, por isso, uma probabilidade maior de falhar do que os existentes.
Por outro lado, os novos negócios durante o seu período de arranque estão no seu lado negativo até à obtenção de retorno do investimento e das necessárias condições de expansão. Podem ainda haver efeitos indiretos da oferta ou spillovers por parte das novas empresas, produzindo resultados líquidos negativos no mercado, dependendo da evolução da curva da procura em determinado setor.
Na realidade, em qualquer das condições anteriormente referidas, a conclusão a tirar é a de que atividade empreendedora gera valor, uma vez que, no médio e no longo prazo, promove a criação líquida de emprego, o crescimento económico e acrescenta benefícios para o cliente e consumidor finais. De facto, o ritmo de crescimento de emprego nas PME e das startups foi cerca de duas vezes superior ao das grandes empresas na última década, sendo aquelas responsáveis por cerca de 85% do total de empregos criados nesse período. Por outro lado, em situações de recessão económica como a que vivemos atualmente, as PME, estando mais expostas a choques sistémicos, e as startup, apresentando uma taxa de sobrevivência de cerca de 50%, contribuem, ainda assim, para o saldo positivo da criação de emprego.
Se é verdade que as economias de escala, os níveis de produtividade e a maior facilidade de escoamento de produtos pelos canais de distribuição e de comercialização que as grandes empresas conseguem desenvolver promovem uma recuperação mais rápida, não é menos que a inovação e o empreendedorismo são alavanca e o ponto de apoio para a mudança. E o ponto-chave é o enfoque na dinamização de redes entre startups, PME, grandes empresas e universidades que promovam modelos de parceria com valor acrescentado e competências sustentáveis, a partilha da inovação e da transferência de tecnologia, os ganhos de produtividade ao longo da cadeia de valor e o acréscimo de economias de escala e de gama.
Recentemente, nos Master courses da NOVA School of Business& Economics, com os seus projetos, os alunos promoveram ganhos de produtividade e de eficiência, optimizaram processos e aumentaram os níveis da qualidade dos serviços de empresas tão diferentes como a VW Autoeuropa do setor automóvel, a PME Opensoft do setor das tecnologias de informação, que esteve em Silicon Valley, e a INPAR, startup de consultoria de processos de negócio e de CRM.
O desafio passa por proporcionar o desenvolvimento de conhecimento, de skills e de atitudes adequados e diferenciadores aos alunos para desenharem e porem em prática estes Planos de Mudança e de Melhoria Contínua e de Inovação nas empresas. Por outro lado, reforçar o posicionamento estratégico que o triângulo escola, aluno, empresa representa hoje em dia no contexto de economia do conhecimento e da inovação e apoiar a transição do aluno entre a universidade e o mercado de trabalho, em torno dos desafios atuais, promovendo valor acrescentado para as empresas que participam no programa.
As empresas podem ainda promover spin offs destes projetos para incubadoras e aceleradores de negócios como o Startup Lisboa e o seu desenvolvimento e a sua expansão serem apoiados por este tipo de estruturas. Na Europa, na última década, cerca de 67% dos 87 milhões de postos de trabalho são PME e as startups contribuíram com cerca de 17,5 milhões de novos empregos (8,6 milhões líquidos), conforme estudo recente, enquanto que, nos EUA, mais de 60% da criação de emprego pertence a empresas com cerca de 5 anos de atividade, o que vem demonstrar a importância desta alavanca em termos culturais, sociais e económicos para acelerar a mudança nos mercados globais.
* Professor convidado da NOVA School of Business & Economics e membro do Board of Directors da APBA – Associação Portuguesa de Business Angels
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