terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Acelere, mas saiba a hora de parar

Os empreendedores e os grandes campões de Fórmula 1 têm bastante em comum

Assim como vários brasileiros, eu também sou fã das corridas de Fórmula 1.

Ao analisar a carreira dos grandes campeões, percebi que a maioria das características que fizeram essas pessoas se destacarem no esporte podem ser comparadas às dos empreendedores de sucesso que conheci.

Procurei destacar algumas que acho importante:

1. Saber a hora de parar

Corredores, assim como empreendedores, têm a velocidade e a vontade de acelerar no sangue. No entanto, apenas correr cada vez mais rápido não fará um campeão, e sim corredores desastrados ou até vítimas de acidentes fatais.

No ambiente de negócios, auditores, contadores e advogados podem ser esses freios ou indicadores do limite máximo “automóvel”. É muito comum ouvirmos queixas de empreendedores que dizem que esses profissionais emperram o negócio e que, diferentemente deles, estão sempre apontando potenciais problemas ou riscos. No entanto, ao escutarmos os depoimentos de empreendedores mais maduros, a maioria dirá que, em suas vidas, a contratação desses profissionais foi um fator decisivo para que a sua corrida não acabasse em uma trombada com o muro.

2. Economizar pneus e combustível

Em uma corrida, o piloto sabe que os seus recursos – principalmente pneus e combustível – são limitados e que economizá-los, dirigindo de forma inteligente, será o diferencial para conseguir chegar até o final da prova.

Conduzir de forma inteligente significa administrar os seus recursos no limite correto da necessidade de seu negócio. Não adianta correr mais do que o necessário, de forma não planejada, e, perto da hora de cruzar a linha de chegada, o carro morrer ou um pneu estourar.

Uma boa estratégia de negócio deve sempre considerar a administração de seus recursos e a marcha correta a ser aplicada, identificando momentos em que o carro precisará de mais torque e menos velocidade e vice-versa.

Lembre-se: um dos combustíveis de seu negócio é o capital de giro. Quanto maior for a aceleração, maior será o seu consumo e, portanto, a necessidade de reabastecimento.

3. Estratégia de corrida

Um campeão sempre observa os outros corredores, verifica o potencial dos oponentes e as ameaças e até tenta descobrir como os outros estão ajustando os seus carros.

As equipes desses pilotos exercem papéis fundamentais nos seus resultados, pois, assim como consultores, ajudarão o piloto a entender o limite de seu carro, saber a previsão do tempo para a hora da corrida, definir quantas paradas serão feitas e estabelecer a hora de reabastecer, entre outros fatores de sucesso. O interessante dessa relação é que esses consultores não são pilotos, mas têm qualidades e visões diferentes.

A partir desses perfis diferentes e de enxergar a corrida por outro ângulo, que não o do piloto, esses consultores ajudarão na interpretação da corrida, além de na definição e na implantação da estratégia.

Esse é o papel exercido também pelos colaboradores, aqueles que, embora não estejam pilotando, são fundamentais para ajudar o empreendedor a enxergar o seu negócio por outros olhos. São pessoas que colaboram para o desenho da estratégia do negócio.

4. Andar dentro do traçado

Por mais geniais e até excêntricos que possam parecer alguns campeões, os que se diferenciam são aqueles que, após assimilarem o traçado da pista, conseguem, volta após volta, manter-se dentro desse desenho e, como um relógio, fazer voltas extremamente precisas. Manter-se no rumo e no caminho pré-estabelecido faz com que o campeão aprenda a cada volta a maior quantidade possível de detalhes da pista. Na medida em que a sua familiaridade com o trajeto aumenta, maior é o seu desempenho.

No entanto, nesse momento de trabalho braçal e menor criação, a genialidade está lá guardada, para quando algo sair do planejado e que a decisão e ação tenham que ser rápidas.

5. Instinto

Muito se fala sobre o instinto dessas pessoas, e atribuir parte do sucesso de empreendedores e campeões a isso é bastante criticado. No entanto, o que chamamos de instinto ou, melhor dizendo, agir por instinto é na verdade um conjunto de reações, aparentemente não racionais, frente a determinados desafios.

Essas reações, no entanto, foram desencadeadas a partir de processos mentais extremamente rápidos de processamento de várias informações e experiências guardadas no subconsciente dessas pessoas.

A experiência armazenada, a observação e a capacidade desse processamento mais rápido do que os outros é o que acabamos chamando de instinto. Não é, portanto, nada sobrenatural.

Eu poderia descrever muitas outras características, mas acredito que essas sejam as essenciais para percebermos que, no caminho para o sucesso, não basta ter talento. Temos que estabelecer limites, saber gerenciar os nossos recursos, delegar, usar a ajuda dos outros, ser disciplinado e observar o mundo. E, claro, um pouco de sorte sempre ajuda. Boa corrida!

*Carlos Miranda é presidente e fundador do fundo de private equity BR Opportunities, mestre em administração de empresas pelo IBMEC RJ e co-autor do livro “Empresas Familiares Brasilieiras”, organizado pelo Prof. Ives Gandra Martins
twitter: @carlosmiranda2

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