Os estudos dizem que as mulheres são um alvo potencial de desigualdades e a União Europeia responde com fundos para amortecer as diferenças. Conheça as iniciativas que fomentam o empreendedorismo feminino e os casos reais que daí nasceram.
Modular o sistema imunitário para reduzir taxas de rejeição de órgãos transplantados é o desafio da Cell2B, uma empresa que chegou ao mercado em Janeiro deste ano e que dedicará os próximos anos à realização de ensaios clínicos que comprovarão a segurança e a eficácia do tratamento desenvolvido. O potencial da proposta que a empresa se prepara para comercializar entretanto já foi bem identificado: pode beneficiar mais de 175 mil doentes por ano, aqueles que hoje reagem mal a transplantes e vêem as hipóteses de sucesso do procedimento comprometidas pela reacção.
Ao leme do projecto está, também, uma mulher, Daniela Couto, que este ano venceu a primeira edição do Prémio Mulher Empresária da ANJE - Associação Nacional de jovens Empresários, na categoria Start - criação de empresas.
Organizado em parceria com a Inovgaia, a iniciativa premeia projectos em duas vertentes: reconhecimento da inovação, associada a empresas constituídas há menos de um ano; ou planos de negócios em vias de implementação. Reconhece também a vocação empreendedora de mulheres responsáveis por negócios já amadurecidos, mas que continuem a demonstrem potencial de crescimento. Uma vertente distinguida com o galardão Grow - Expansão e Reafirmação de Empresas.
Ambos os projectos vencedores - curiosamente os dois da área da biotecnologia - tiveram direito a um prémio em dinheiro de 5 mil euros, que se junta ao apoio no acesso a instrumentos de suporte financeiro e infra-estrutural.
A Cell2B ainda não recorreu ao apoio não monetário que o prémio proporciona. Conta fazê-lo mais à frente (o prémio acabou por proporcionar um contrato com uma empresa prestadora de serviços na área das patentes). Mesmo assim, Daniela Couto consegue identificar vantagens que decorrem da participação e que aliás já antecipava, por isso participou.
"Um prémio é sempre uma demonstração de alguma credibilidade. Por outro lado dá-nos visibilidade". Era exactamente o que procurava a empreendedora, numa fase em que a Cell2B precisava de capital para dar um passo em frente. O prémio serviu o propósito e - para além de ter contribuído financeiramente para a concretização do plano de negócios - serviu de montra para captar investidores.
Prémios que dão reconhecimento
À procura do reconhecimento que uma distinção deste género pode dar, 70 mulheres candidataram-se a esta primeira edição do Prémio Mulher Empresária, uma iniciativa a que a organização pretende dar continuidade. No suporte a esta forma de promoção do empreendedorismo estão fundos disponíveis através do Quadro de Referência Estratégico Nacional, em vigor até 2013. Neste caso, através do COMPETE - Programa Operacional Factores de Competitividade.
O mesmo QREN, mas através do Programa Operacional Potencial Humano, enquadra mais cenários de promoção do empreendedorismo feminino, dirigindo-se a um grupo que todos os estudos europeus rotulam como alvo potencial de desigualdades.
A medida 7.6 - Apoio ao Empreendedorismo, Associativismo e Criação de Redes Empresariais Geridas por Mulheres do programa é coordenada pela Comissão para a Igualdade de Género, que já ajudou a criar 312 empresas lideradas por mulheres com este recurso. A CIG leva ao terreno, através de uma rede de quase uma centena de parceiros, um programa que aposta essencialmente na formação das mulheres que querem empreender, mas não têm bases ao nível da gestão de empresas.
Um tipo de apoio à medida das necessidades de Elisabete Antunes quando regressou a Portugal, após concluir em Espanha um mestrado na área da inovação. O tema era ainda pouco explorado pelas empresas portuguesas e a licenciada em Design de Equipamento percebeu nisso uma oportunidade de negócio. Criou, com um sócio, uma consultora em Leiria para prestar serviços de consultoria em inovação.
Antes de criar a Advank frequentou o FAME, uma iniciativa gerida pelo IFDEP - Instituto para o Fomento e Desenvolvimento do Empreendedorismo em Portugal, especificamente dirigido a mulheres.
O FAME - um dos programas que coloca no terreno a medida 7.6 do POPH - foi tão relevante na fase inicial da carreira de gestora de Elisabete, que é hoje recomendado com frequência às clientes que estão a começar um negócio. "Foi muito importante para mim, sobretudo na área da contabilidade e no apoio à criação do plano de negócios", admite.
O FAME estrutura-se em três vertentes principais: desenvolvimento de competências; consultoria na fase de criação da empresa e apoio financeiro (disponível apenas para os projectos cujo plano de negócios é aprovado). Uma estrutura idêntica àquela que pode encontrar-se nos restantes programas alimentados pela mesma fonte de financiamento.
Durante a formação, as empreendedoras tomam contacto com os formalismos inerentes à constituição de uma empresa e são elucidadas relativamente às responsabilidades do negócio nas mais diversas dimensões, incluindo o marketing, a gestão financeira, de recursos humanos ou a importância do planeamento estratégico. Recebem ainda apoio (consultoria) para operacionalizar o plano de negócios e ajudar a prever contratempos e cenários futuros.
"O apoio financeiro no final do programa é um prémio. Pode não ser muito mas bem gerido é uma ajuda importante para arrancar", explica Vânia Neiva, fundadora da Ampla Design, que nasceu com o apoio de outra iniciativa apoiada pelos fundos europeus consagrados à promoção do empreendedorismo feminino. Neste caso a DoNaEmpresa, da Associação Portuguesa de Mulheres Empresárias.
No caso de Vânia Neiva, os 12 meses de salário mínimo que constituem o apoio financeiro disponibilizado a quem cria uma empresa depois do "banho" de gestão, serviu para comprar programas de software e começar a apresentar os primeiros trabalhos.
Sexo forte
Desempregada quando abraçou o seu próprio projecto profissional, Vânia Neiva passa os últimos três anos em retrospectiva e faz um balanço positivo. Sem negar que ser mulher tem os seus constrangimentos em "mundos" dominados pelo sexo masculino, como é a área onde a sua empresa presta serviços, essencialmente industrial.
"Ser muitas vezes ser mulher facilita, porque há um cuidado diferente na forma de falarem connosco, mas também é verdade que muitas vezes sentimos que não estamos de igual para igual", defende.
As diferenças sentem-se, mas não chegam para esmorecer planos e planear novos voos, que se farão à conta de uma maior aposta em produtos próprios e dos primeiros passos na internacionalização. Acontece o mesmo com Marta Alberto, fundadora da Master Blank.
A empresa que criou em 2007 procura parceiros e clientes na indústria e na construção. Enquanto "frente" comercial da Master Blank, tem-se deparado com alguns rostos de surpresa em reuniões de trabalho e admite já ter tido a sensação que o impacto inicial da combinação de ser mulher e jovem venceu à partida o valor da proposta comercial que ia mostrar. Mas o caminho da empresa tem-se feito e hoje, aliás, já não é um caminho: são vários.
O empreendedorismo de Marta Alberto também teve ajuda para se transformar em negócio. Neste caso, através de uma iniciativa que não é desenhada exclusivamente a pensar nas mulheres, mas que tem ajudado a promover algumas, que acabam por servir de inspiração a outras.
A Master Blank foi a vencedora da 9ª edição do prémio Jovem Empreendedor da ANJE, em 2007, um marco incontornável na vida da empresa, pela projecção e oportunidades de networking que proporcionou e continua a proporcionar. Quem se submete à apreciação do júri desta iniciativa já tem de levar um plano de negócios estruturado e terá de defendê-lo bem, um desafio pelo qual vale a pena passar "porque nos faz pensar no negócio e questionar aspectos essenciais", admite Marta Alberto.
Vencido o desafio, sucederam-se oportunidades para divulgar o projecto, dar-se a conhecer a potenciais clientes ou mesmo a futuros empreendedores, como permitiu a integração no Roteiro da Juventude do Presidente da República no ano passado.
"O mais importante para nós é que a ANJE não se limitou a dar o prémio. Há toda uma componente de divulgação do projecto junto os media que continua a acontecer. Todo este apoio seguido e que continua a acontecer tem sido muito relevante para dar a conhecer a empresa", admite. Internamente a empresa aposta na inovação e na qualidade dos produtos para continuar a garantir destaque e atalhar caminho até aos clientes.
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