sábado, 17 de dezembro de 2011

A arte de começar com quase nada

Em minhas palestras sobre empreendedorismo, percebo que é grande o número de pessoas que desejam tirar suas ideias do papel, mas não o fazem porque têm medo de assumir o risco de uma visão ainda não testada. Ou ainda esperam o dia em que terão dinheiro suficiente para abrir a empresa tal qual imaginaram e com uma boa reserva para emergência. A todas essas pessoas, recomendo um método que o pessoal da tecnologia da informação usa e repete sempre: método KISS (keep it simple, stupid!).

Dinheiro frequentemente é uma bênção. Mas dinheiro na mão de quem não sabe ao certo o que fazer normalmente é sinônimo de más decisões. A partir da identificação de uma oportunidade de negócio, não devemos ficar perdendo tempo imaginando coisas grandiosas logo no início. Antes de investir grande parte do seu patrimônio, requisitar um empréstimo bancário ou buscar um sócio investidor, faça uma prova de conceito. Comece pequeno, comece com o que você já tem, comece com algumas coisas emprestadas, em um espaço sublocado ou em casa mesmo, mas, em vez de sonhar com as condições ideais, comece!

Colocar o sonho em prática nos traz muitas coisas boas: experiência, confiança, melhor conhecimento do mercado, algum posicionamento e reputação e, principalmente, mais certeza de que nossas ideias são viáveis. E, caso não sejam, trabalhando com pouco, sendo pequeno e sem ativos imobilizados, não é difícil refazer todo o projeto e começar novamente. Nesse primeiro momento, não é preciso largar seu trabalho atual. Dedique-se ao seu projeto à noite, nos finais de semana, na hora do almoço. Apresente o que você faz aos seus conhecidos, sinta a receptividade, ouça o feedback, ajuste o preço, melhore a oferta.

Esqueça o luxo, esqueça ferramentas complicadas e específicas, improvise, repense seu processo de trabalho. Um dos maiores motores da inovação é a necessidade. E deixe de lado a vaidade e a pressa. Garanta estar sempre crescendo, mas não queira ser maior do que pode sem suficiente razão e base para isso. Alguns conhecidos estão mais preocupados com o número de funcionários, com a localização do escritório e com o buzz da marca do que com a lucratividade dos negócios. Vejo empresas bonitas e bem estabelecidas, que dão retorno zero aos empresários (e pior, com eles perdidos e sem horizonte de fazer o negócio crescer ou lucrar). Não tenha vergonha de começar pequeno, de ter funcionários part-time, máquinas de segunda-mão, todo mundo trabalhando em home office.

Por fim, tenha em mente se você quer uma empresa ou um hobby. Começando pequeno, alguns esquecem seus objetivos e aceitam trabalhar sem lucro ou mesmo pagar para trabalhar em nome de uma experiência ou investimento futuro. E empresa que não dá lucro não é empresa, é hobby. Nesse aspecto eu sou bem intransigente: acredito que, se os clientes não estão dispostos a pagar o que o produto custa ou vale desde o primeiro momento, se tudo o que você tem a oferecer é uma diferenciação por preço insustentável no tempo, é melhor repensar seu negócio. Repensar nicho, estrutura de custos ou a viabilidade dessa ideia. Se os clientes hoje não vêm o valor no que você tem a oferecer, o que garante que em um ano ou dois a situação mudará?

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