quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

PicLine aposta na proximidade com o Cliente


Quando questionado sobre o futuro da sua empresa, Paulo Cristóvão sorri e afirma que com os pés bem assentes na terra nunca pensou muito no futuro mas que sempre se empenhou em planear bem um Presente sólido.

Embora fossem vizinhos Paulo Cristovão e Márcia Savedra não se conheciam até que um primo dele os apresentou. Tinha ele 16 anos e ela 15. Nessa altura não sabiam que aí começara um projecto que os ia unir a nível pessoal e também profissional.
Quando se conheceram estavam a terminar o nono ano de escolaridade e colocava-se uma decisão importante na vida de qualquer jovem. Que carreira profissional escolher?
Paulo tinha a paixão por actividades ligadas ao Marketing e ao Design, Márcia conhecia como ninguém o processo produtivo da área têxtil. Assim, e incentivados pelos Pais de Márcia (Joaquim e Maria de Fátima Saavedra) estes dois jovens iniciaram aos 18 anos uma pequena empresa têxtil, que deu origem ao que é hoje a PacLine.

Inicio de Actividade

A produção de roupa de menino foi a opção por exclusão de partes, uma vez que os Pais de Márcia trabalhavam o segmento de menina e a irmã mais velha de Márcia, Paula Saavedra, produzia para o segmento de senhora.
No inicio por uma questão de necessidade, e porque a estrutura se resumia aos dois, decidiram que iriam participar directamente nas actividades das quais resultasse maior valor acrescentado para o produto final.
Após a escolha conjunta das matérias-primas a utilizar na confecção, quase sempre a parte criativa surgia do Paulo com a Márcia a liderar o corte enquanto também preparava a produção.
Essa por sua vez era assegurada por uma rede de costureiras independentes que tinham a capacidade de garantir o nível de qualidade pretendido para os artigos.
Márcia ainda se lembra entusiasmada das primeiras peças produzidas ”foram 100 blusões de verão tipo Marinheiro”
Na primeira época do início de actividade foram produzidas 900 peças que tiveram como destino final o Mercado grossista. O canal de venda utilizado era fundamentalmente Feiras de Revenda que se realizam semanalmente em Espinho, Esmoriz, Gondomar, Guimarães entre outras.
Sendo practicamente os ultimos a chegarem aquele meio e rapidamente a serem dos primeiros a o abandonarem o mesmo devido á solicitação de diversos clientes para passarem a produzir para os próprios com encomendas firmes, sempre em regime de private label.
Apesar da sua juventude, esta dupla empresários rapidamente se deu conta da importância de uma politica proximidade com o cliente.”…Fazer, tratar e sentir a Marca do nosso Cliente como se fosse a nossa Marca”, esta tem sido a estratégia seguida ao longo deste anos.
“Tenho que ser os olhos do Cliente. Necessito compreender o conceito, a necessidade e o cliente alvo que o meu cliente pretende atingir, para poder transmitir isso nos artigos que produzo”, é assim que Paulo Cristovão encara a relação comercial com os seus clientes. A verdade é que a estratégia seguida tem sido frutuosa com resultados bastante positivos e que se traduzem numa confiança e relação comercial já com vários anos.
“Assumimos a atitude dos nossos clientes com elevada responsabilidade e satisfação, pois não queremos produzir os modelos apenas desta época, mas também das que ainda virão” afirma Paulo. Em alguns casos os Clientes apenas lhe dizem quantos modelos querem produzir por estação, dando-lhe plena confiança e liberdade na concepção e nas tendências actuais do mercado.
A crescente confiança dos clientes e o dinamismo destes empresários traduziu-se no crescimento da actividade da PacLine, que em 2003 obrigou à mudança de instalações e ao investimento em activos fixos que permitiram optimizar as actividades de corte e design.
Agora num espaço próprio, a contar com mais quatro elementos na equipa, com um processo produtivo ágil e flexível estes empresários contrariam a tendência de encerramento de empresas têxteis e consequentemente o aumento do nº de desempregados neste sector de actividade.
Num sector que actualmente sofre uma grande ameaça com a concorrência dos produtos Chineses, Paulo Cristovão é peremptório quando afirma “ sem concorrência não era feliz, simplesmente hoje não existíamos”. Reconhece que a concorrência o obriga a estar constantemente preocupado, atento e empenhado, progredindo desta forma sempre em direcção ao que encara como “concorrência leal”. Esta concorrência que inevitavelmente se basea no mais, no melhor, no diferente e em nunca descurar as questões de qualidade, eficiência e compromisso com o nosso (tal como trata todos os clientes sejam eles pequenos ou grandes)”Pricipal Cliente”.

Lançamento da Marca

Uma nova ideia começa a formar-se na cabeça de Paulo,quebrar as regras,conceitos e criar a sua própria marca de roupa de Criança sem barreiras nem fronteiras….sempre tentando dignificar com o que de melhor se faz em Portugal no segmento Denim.
Em 2006 nasce a ä Label Jeans, marca de roupa de criança, que se destaca pelo seu estilo irreverente, atrevido e com atitude.
Dirigida ao segmento médio alto, a marca tem como ponto forte a vertente de pure Jeans - calças, corsários, calções, camisas, t-shirts e blusões. As faixas etárias abrangidas são a linha de bebé, dos 0 aos 5 anos e a linha júnior, dos 6 aos 16 anos.
O objectivo da marca é vestir a criança de uma forma diferente e com um estilo próprio e irreverente.
São objectivos para a Marca a apresentação da gama ä Label Jeans Basic Line and Acessories, bem como o lançamento de linhas de produtos como ä Label Jeans Shoes, Bags and Beachwear.
A colocação dos produtos de marca própria no mercado é feita através de representantes, pois como Paulo explica “ o objectivo foi facilitar o processo de venda, dada a estrutura reduzida que temos e que pretendemos continuar a manter….um cérebro pequeno,controlado mas extremamente eficaz em todas as suas necessidades”
Os produtos ä Label Jeans estão disponíveis em lojas multimarcas no mercado nacional. Internacionalmente o mercado holandês é o mercado preferencial para a marca, também em regime de representação.
Convicto de que a Comunicação e, dentro desta, a publicidade é determinante para a evolução da marca, estes empresários pretendem desenvolver, época a época, uma série de iniciativas criativas, inovadoras e out standing, porque juntamente com os produtos pretende-se “vender” uma imagem, uma mensagem e um estilo.
Segundo os próprios o ano de 2009 foi o melhor de sempre, tendo sido produzidas vários milhares de peças tanto em Private Label como em Marca Própria. No ano de 2010 novos desafios esperam esta dupla de jovens empresários, que desejam solidificar, e entrar em novos segmentos de mercado, bem como em novos canais de distribuição………seguindo sempre o velho mas muito actual lema:”…parar é morrer”.


Análise António Vale - "PicLine é um exemplo de reinvenção e inovação numa actividade tradicional"


A iniciativa privada é um dos principais motores da economia pelo que deve ser incentivada e acarinhada por todos. Os sócios da empresa em análise são um exemplo de capacidade de resolução dos seus próprios problemas de emprego, não esperando que a sociedade os substitua nessa responsabilidade que a cada um de nós diz respeito.
A Pacline é o exemplo da reinvenção e inovação de uma actividade tradicional e da passagem para um estágio diferente do sector têxtil e vestuário. De facto, iniciou a sua actividade dando valor acrescentado ao produto através do design e dos materiais empregues, não se limitando a ser uma simples e condenada subcontratada de grandes cadeias e marcas internacionais. Por outro lado, definiu com clareza as actividades que deveriam estar concentradas na empresa (design e corte) subcontratando as que acrescentam pouco valor ao produto final. Dessa forma, conseguiu criar uma unidade empresarial ágil e flexível, assente numa estrutura de custos fixos reduzida e adaptada ás flutuações do mercado.
O passo inicial na estruturação do negócio permitiu á Pacline ganhar espaço no mercado, a confiança dos seus clientes e a sua fidelização. Ao focalizar a sua atenção nas necessidades do cliente estabeleceu com o mercado uma relação de parceria, bem mais importante do que uma fria ligação fornecedor/cliente. Em simultâneo apraz-me verificar a constante atenção á concorrência avaliando a evolução e tendências do mercado, permitindo-lhe assim estar permanentemente “na onda”.
Entendo que a fase inicial do negocio baseada no desenvolvimento de produtos para Private Label foi, e continua a ser, fundamental para o lançamento da marca, uma vez que a atenção ao mercado dos seus clientes lhe permitiu recolher muita informação sobre o futuro mercado da sua própria marca.
A criação de uma marca própria é sempre um passo que deve ser bem medido uma vez que o mercado está inundado de oferta de marcas incaracterísticas e sem identidade. No caso em apreço, a definição clara do mercado alvo permite o desenvolvimento de colecções desenvolvidas e ajustadas a esse mercado e, acima de tudo, a criação de um conceito que atribui identidade á marca. Este sim, é um factor diferenciador e deveras importante na criação de uma marca.
Importa também salientar a preocupação em não incrementar a estrutura fixa da empresa, mantendo toda a sua flexibilidade inicial. A aposta numa rede comercial baseada em agentes, apesar de arriscada do ponto de vista de fidelização dos mesmos, permite manter uma estrutura fundamentalmente assente em custos variáveis. Assim, e para alem da flexibilidade, a empresa ganha na facilidade com que pode efectuar a análise do custo do produto, ajustando-o mais facilmente ao mercado. Por outro lado, a perspectiva de alargamento de mercado através da internacionalização é uma forma de reduzir o risco que uma concentração exagerada no mercado português pode representar. De facto, o comércio tradicional já passou dias melhores, e a exagerada concentração em centros comerciais apenas protege as grandes cadeias e estrangula os pequenos comerciantes, diminuindo fortemente a possibilidade de sucesso de projectos idênticos á Pacline.
Como grande recomendação sugiro que a empresa realize uma reflexão estratégica para o futuro, para um horizonte de 4 a 5 anos, e pense na elaboração de um plano escrito contendo objectivos, acções e meios necessários para que aqueles possam ser atingidos, servindo este como o principal documento de orientação da actividade da empresa nos próximos anos. Seguramente que os resultados serão ainda melhores do que aqueles que foram já alcançados.


Professor Joaquim Mourato - "Portugal cria muitas empresas mas não as segura nem as desenvolve"


O Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) é uma Instituição de Ensino Superior que integra, neste momento, quatro Escolas Superiores - Educação (ESEP), Tecnologia e Gestão (ESTG), Agrária de Elvas (ESAE) e Saúde. O IPP inicia a sua actividade em 1985 com a ESEP, para, em 1990, começar a funcionar a ESTG, em 1995 a ESAE e, em 2001, integrar a Escola Superior de Enfermagem (actual Escola Superior de Saúde).

VE - Professor, sei que participou desde o inicio no projecto de criação do Instituto Politecnico de Portalegre em 1985. Pode-se dizer que foi um projecto empreendedor à data?
JM -Em primeiro lugar devo corrigir a afirmação, apenas entrei no IPP em 1996, pela ESAE, pertencendo ao grupo de docentes que deu início à actividade lectiva naquela Escola. Desde2000 que estou na Administração do Instituto, sendo actualmente o seu Presidente.
Da experiência de docente e dirigente, conhecendo bem a região em que o Instituto está inserido, posso afirmar que o IPP é um projecto empreendedor. Em todo o seu desenvolvimento temos procurado não fazer mais do mesmo. As apostas na inovação, em acções diferenciadoras, na qualidade, etc. têm construído um Instituto com uma identidade muito própria.
VE - Vai começar este ano uma segunda edição do Mestrado em “Empreendedorismo e Gestão de PME’s”. Qual o objectivo na base da criação deste mestrado?
JM - A fundamentação do curso baseia-se, sobretudo, em dois vectores fundamentais: Proporcionar uma oferta formativa, no contexto nacional, que concilie, de uma forma sinérgica e efectiva, três situações que detêm (a primeira) ou ganham (as restantes) uma crescente importância no âmbito da gestão de empresas:
• As mais recentes tendências e desenvolvimentos das ciências empresariais;
• A envolvente económica global e a consolidação de uma sociedade e de uma economia do conhecimento;
• E as necessidades e idiossincrasias presentes na criação de empresas e na gestão de PME’s, com especial incidência na criação e gestão de micro e pequenas empresas;
• Contribuir, decisivamente, para o desenvolvimento da região (de interior) em que estão inseridos o Instituto Politécnico e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Portalegre.
Com este mestrado pretende-se formar pessoas com um elevado nível de qualificação, aptas para intervirem na criação de empresas e em processos de inovação, reestruturação e desenvolvimento de empresas existentes, quer ao nível do perfil de empresário, quer ao nível de quadros superiores.
Quero reforçar a importância que este curso pode ter no crescimento da economia regional, proporcionando alta qualificação dos seus recursos humanos.
VE - Qual o perfil dos alunos do mesmo?
JM -Procura-se que o aluno adquira competências para assumir desafios a qualquer nível da empresa. Que seja competente para desenhar um plano de negócios, que se assuma enquanto empresário, ou para se integrar numa empresa, liderando um projecto, executá-lo tecnicamente e acompanhar o seu desempenho. Tudo isto acompanhado de uma adequada compreensão do contexto em que nos inserimos, i.e. das suas linhas de força dominantes.
VE - Qual a importância de uma escola de ensino superior no desenvolvimento da atitude empreendedora numa cidade do interior?
JM - Uma instituição de ensino superior do interior do país tem que se assumir como motor do desenvolvimento regional. É a entidade que concentra os recursos humanos mais qualificados e, por isso, tem maiores responsabilidades para com a região. Como é que deve assumir as responsabilidades? Para além da sua missão na formação e qualificação das pessoas, deve tomar a iniciativa, liderar projectos, integrar-se em parcerias, investigar e transferir tecnologia. Deve ser uma Escola que compreende o meio em que está inserida, que impulsiona os seus agentes a inovarem mas que é parceira no risco.
VE - Estão previstas medidas que permitam seguir/apoiar de alguma forma os projectos empreendedores que tenham origem neste mestrado?
JM - Temos prevista a realização dos estágios em contexto empresarial e um conjunto de infra-estruturas, nomeadamente uma incubadora de base tecnológica, para acolher e apoiar o desenvolvimento de projectos.
Pretendemos fomentar a criação de equipas, constituídas por mestrandos dos vários cursos de mestrado que são ministrados no Instituto, para avançarem com projectos mais sólidos e com maior probabilidade de sucesso.
VE - Todos afirmam que os níveis de empreendedorismo em Portugal são baixos. Que outras medidas poderiam ser tomadas para que se verificasse uma mudança nesta situação?
JM - Atitude generalizada traduzida em apoios concretos. O problema não está na falta de ideias mas sim na sua concretização. Dificuldades diversas se colocam ao nível dos licenciamentos, das instalações, do financiamento, etc. O contexto reage, muitas vezes, de forma adversa ao empreendedor. Não se facilita nem se dá o benefício da dúvida. O sucesso do empreendedor depende muito da atitude de todos aqueles que o rodeia, da predisposição para acarinharem os projectos. Portugal cria muitas empresas mas depois não as segura nem as desenvolve. É aqui que reside o problema. Tenho a convicção que a qualificação dos recursos humanos, por um lado, e a desburocratização do Estado, por outro, são uma boa parte da solução.
VE - O empreendedorismo é uma capacidade inata ou uma capacidade situacional?
JM - Entendo que são ambas. A capacidade inata é necessária mas pode não ser suficiente. O empreendedorismo de sucesso requer características inatas, a aquisição de conhecimentos e a capacidade de se actualizar permanentemente.
VE - Quais as competências essenciais necessárias a um empreendedor de sucesso?
JM - Poderia descrever inúmeras e nunca as esgotaria. No mundo actual penso que é fundamental a um empreendedor, para além das competências técnicas, pensar global, ser criativo e muito persistente. Pensar global porque tem que olhar e compreender o mundo. Ser criativo porque o período de vida útil de uma boa ideia é cada vez mais curto, exigindo-se criatividade permanente. Persistente porque as dificuldades são garantidas e em elevado número, requerendo do empreendedor grande convicção no seu projecto e forte capacidade para ultrapassar as contrariedades.
VE - Normalmente associa-se empreendedorismo ao empresário. É possivel ser empreendedor trabalhando por conta de outrem?
JM - Claro que sim. No IPPortalegre tenho vivido essa experiência, sempre incentivando os trabalhadores a apresentarem projectos, a fazerem de forma diferente as suas tarefas. Posso confirmar que através do sistema de gestão da qualidade e do concurso interno de boas práticas muitas foram as iniciativas que se concretizaram e que vão mudando a Instituição. O empreendedor é aquele que não se conforma com o estado actual das coisas, que acredita sempre ser possível fazer mais e melhor. Ora este perfil também existe num trabalhador por conta de outrem.
VE - Numa altura em que o mundo vive uma crise económica sem precedentes, o empreendedorismo pode ser uma solução?
JM - Tenho a convicção de que o empreendedorismo é a solução. Esta é a base da economia real, aquela que garante a criação de riqueza e de emprego.
VE - Qual a relação de empreendedorismo e inovação. É possivel ser empreendedor sem ser inovador?
JM - Não consigo separar nitidamente um conceito do outro. Um empreendedor, ainda que procure desenvolver um projecto idêntico a outro já existente, na prática algumas variáveis são, necessariamente, diferentes, resultando sempre algo inovador.