quinta-feira, 4 de março de 2010
Fernando Leite, Administrador Delegado da LIPOR - "Dispomos de "Know-How" que nos confere uma dimensão Internacional".
Depois de vinte sete anos a tratar dos resíduos de aproximadamente 12% da população portuguesa, vale a pena fazer uma retrospectiva e entender como a Organização se transformou podendo hoje ser equiparada às melhores organizações do género existentes na Europa.
O crescimento demográfico bem como as alterações no modo de vida e de comportamentos sociais verificados na década de 70 originaram uma acumulação de resíduos sem o destino final adequado.
Desde eras longínquas compete às Câmaras a preservação da salubridade, assegurar o asseio e a limpeza das Cidades, viam-se agora confrontadas com a falta de soluções adequadas.
Assim e na busca de uma solução única para problemas comuns, cinco municípios da área metropolitana do Porto decidiram criar a 12 de Novembro de 1982 a LIPOR, como Associação de Municípios constituída por Espinho, Gondomar, Maia, Porto e Valongo.
Nascia assim uma entidade que se destacaria pela inovação e pioneirismos na área de tratamento de resíduos a nível nacional e Internacional.
VE – Quais foram as primeiras medidas de cooperação municipal levadas a cabo pela LIPOR aquando da sua constituição?
FL - A cooperação intermunicipal, no já longínquo ano de 1982, era incomum, mas como a nossa tarefa era hercúlea, houve que congregar esforços, apelando-se – na altura – ao Município mais desenvolvido, no caso o Porto. Assim tivemos uma cooperação especial daquele Município, que nos permitiu começar Acções de Formação para Técnicos Municipais, participação de Técnicos em Congressos e Visitas Técnicas e a realização dos primeiros Estudos sobre a situação de base na Região quanto aos resíduos.
VE – Sabemos que hoje a LIPOR é uma referência a nível Nacional e até Internacional na área de tratamento de resíduos: Dada a pesada herança que recebeu aquando da sua constituição, pode dizer-nos qual foi o ponto de viragem?
FL - O ponto de viragem mais importante foi o aparecimento dos Fundos Estruturais da União Europeia. Com estes apoios, com os Estudos, Planos e Projectos realizados nos anos 90, e com o reforço dos Quadros Técnicos feito no início dos anos 2000, atingirmos o ponto onde hoje estamos.
VE – Podemos afirmar que a LIPOR se trata de um exemplo de Empreendedorismo no Sector Público?
FL - Considero que sim, porque todos os grandes Planos, Acções e Projectos foram concebidos internamente e nunca por decisão ou propostas externas. Fazemos aquilo em que acreditamos.
VE – Sendo uma Organização empreendedora, como vive a Inovação no dia-a-dia?
FL - Diria que de duas maneiras, uma “interna” e outra, por assim dizer, “externa”. Há internamente uma busca, por exemplo, de novos produtos e processos. São exemplo disso a produção de substratos para a agricultura, utilizando como matéria-prima materiais vegetais seleccionados. A Inovação, numa perspectiva “externa”, é exercida por nós numa busca permanente de utilizarmos, nas nossas Centrais, as melhores Técnicas disponíveis.
VE – Quais são as vantagens competitivas da LIPOR?
FL - As vantagens competitivas da LIPOR, assentam em diversos aspectos, nomeadamente na ecoeficiência e no primado da Qualidade que colocamos no nosso desempenho, na qualificação dos nossos Quadros Técnicos, na visão prospectiva que temos quanto a produtos e serviços inovadores.
VE – Em 27 anos de existência, o percurso da LIPOR tem sido impressionante. Gostava de enumerar alguns dos marcos mais emblemáticos na história da Organização?
FL - Há vários, mas os principais são, sem dúvida, o arranque das 3 grandes fábricas que detemos, o Centro de Triagem, a Central de Valorização Energética e a Central de Valorização Orgânica. Estes 3 equipamentos mudaram a nossa face e deram início a fases novas e importantes nossas.
VE – A LIPOR actua num mercado fechado e sem concorrência. Num cenário de mercado aberto, estaria a Lipor preparada para concorrer com players Internacionais?
FL - Sem qualquer dúvida, hoje dispomos de Know how, de Competências, de produtos e serviços, que nos conferem uma dimensão verdadeiramente internacional.
VE – No que se refere aos Serviços Públicos, normalmente associamos um baixo nível de serviço ao Cliente. Como encara a Lipor os seus Clientes?
FL - Os Clientes estão, a par dos nossos Colaboradores, como os Stakeholders de maior “foco” da nossa intervenção. Se os Colaboradores são um Activo maior, a LIPOR não vive sem os Clientes, pelo que estes estão no pensamento e na acção dos diferentes Departamentos nossos.
VE – Quais os produtos/serviços comercializados pela Lipor?
FL - A LIPOR tem um diversificado “portfólio” de produtos que vai dos correctivos orgânicos (Nutrimais, Nutrimais bio, Horta e Jardins), aos materiais para reciclagem (vidro, plásticos, papel e cartão, Equipamentos Eléctricos e Electrónicos, metais diversos, madeiras e outros) à energia eléctrica, esta de duas origens ou gerada a partir da queima de resíduos, ou originada na queima do biogás dos Aterros Sanitários. Na área dos Serviços temos desde o tratamento e estabilização de resíduos, a Cursos, ou Acções de Educação e Sensibilização em diferentes domínios. Como vê é uma actividade muito diversificada.
VE – Existem sistemas efectivos de relação com o Cliente?
FL - Existem e são muito atendidas internamente, como sejam 2 reuniões anuais com Clientes, para a sua audição e tomada de medidas correctivas das situações anómalas. Também existe um Inquérito de satisfação, que avalia anualmente o “sentir” dos nossos Clientes, tudo articulado no nosso Sistema de Gestão da Qualidade, que regista integralmente as situações reportadas pelos Clientes.
VE – É também uma ideia Comum a existência de desperdício de recursos financeiros nas Organizações Publicas. Como tem sido o desempenho financeiro da LIPOR?
FL - Temos tentado gerir os recursos financeiros de que dispomos, sempre no melhor benefício de todas as partes interessadas, os Municípios associados, os Colaboradores, os Fornecedores, Clientes, populações das zonas limítrofes às nossas Unidades Industriais. Assim, para além de crescermos anualmente o nosso Volume de Negócios, também temos um objectivo muito importante e que é o de atingirmos anualmente resultados líquidos positivos.
VE – Podemos dizer que a Lipor, em primeiro lugar “vende comportamentos”. Qual é o papel da comunicação/publicidade para esse objectivo?
FL - O nosso objectivo máximo, no relacionamento com os Cidadãos, é o de mudar comportamentos, pelo que precisamos mesmo que as Boas Práticas relativas aos Resíduos Sólidos, ao respeito pelo Ambiente, sejam praticadas pelos Cidadãos no seu dia-a-dia, pois em alternativa a LIPOR, para atingir os seus Objectivos, que são os Objectivos do País e mesmo da Europa (p.e. reciclagem total dos resíduos), terá custos muito mais elevados.
VE – Podemos falar da existência da Marca “LIPOR”?
FL - Estamos a trabalhar porfiadamente no dia-a-dia para credibilizar cada vez mais essa Marca, e nós sentimos isso na notoriedade que temos. Há já uma marca LIPOR que é símbolo de credibilidade.
VE – Quais são as vantagens/benefícios de terem desenvolvido um conceito de marca num negócio tão particular como o do tratamento de resíduos?
FL - As vantagens são evidentes, e cito-lhe apenas a confiança que os Cidadãos têm em nós quando avançamos p.e. na construção de novas Infraestruturas, que são sempre motivo de contestação e oposição e no nosso caso há receptividade. Poder-lhe-ia falar, também, nos inúmeros Cidadãos que se nos dirigem, pedindo a nossa colaboração para resolução de diversos tipos de problemas.
VE – A Associação possui um processo de Gestão de Marca?
FL -Nós temos a marca LIPOR sob observação permanente, e o modo como o gerimos tem como objectivo o aumento da sua notoriedade.
VE – A Lipor foi considerada em 2008 uma das melhores PME’s para trabalhar pela revista Exame. Acredita de facto que são as pessoas que fazem a diferença nas Organizações?
FL - É totalmente verdade, são as Pessoas e os métodos de Gestão implementados. Na LIPOR não há uma mera relação de empregado/empregador, há muito mais, há uma cumplicidade total quanto à Estratégia da Organização.
VE – Sei que a Lipor disponibiliza anualmente um plano de formação para cada colaborador. Porque?
FL - A Formação é por nós entendida como uma poderosa ferramenta para o crescimento e a valorização dos Colaboradores. Investimos na Formação, porque, como antes disse, os Colaboradores são um Activo importantíssimo para o êxito da nossa Estratégia e para a vitalidade da Organização.
VE - Que condições a Organização disponibiliza aos seus colaboradores?
FL - Há inúmeros “produtos” e “serviços” que disponibilizamos, para além das retribuições e complementos legais. Vão desde cursos, a acções de confraternização, a apoios específicos p.e. de apoio à natalidade, apoios a deficientes, serviço de levantamento de documentos em Repartições Públicas, Ginástica Laboral, entre outros.
VE – A Lipor enquanto entidade pública, está sujeita ao Sistema de Avaliação de Desempenho da Administração Publica – SIADAP. Qual a importância para as Organizações de um sistema de avaliação de desempenho?
FL - A avaliação é muito importante, para nos permitir aplicar prémios e bónus, aos melhores, evitando a desmotivação e permitindo a melhoria contínua da Organização.
VE- Na sua opinião que mudanças trouxe o SIADAP para os organismos públicos?
FL - Ainda estamos numa fase de aplicação do SIADAP, pois nos últimos meses, novo Modelo foi aprovado oficialmente. Diria que é um método relativamente trabalhoso e que rompe com os modelos do passado. Só por isso é, por vezes, contestado. Considero que para melhorarmos, teremos obrigatoriamente que enfrentar as mudanças com positividade e nunca com obstrução.
VE – Que Visão tem a Liderança da Organização para o seu futuro? Que projectos podemos ainda esperar?
FL - O Futuro vai-nos trazer, seguramente, desafios maiores e mais complexos, em contextos totalmente diferentes dos últimos anos e décadas. Acabou-se a abundância, acabou-se o facilitismo, acabou o êxito da mediocridade. O Futuro é para os mais capazes, mais activos, mais adaptáveis à Mudança, mais cultores do rigor, do profissionalismo. O nosso futuro como Organização, está na nossa jovem Equipe de Gestão, que beneficiou recentemente de uma reestruturação organizativa, e que vai demonstrar ainda mais e melhor o seu empenho, competência e profissionalismo. Estou totalmente confiante, porque sei que a Equipe vai conseguir motivar os Colaboradores para os novos desafios que se nos porão.
Quanto aos próximos Projectos, estão plasmados no nosso Plano Estratégico 2007-2016, e passam por mais produtos e serviços, e novas infraestruturas, das quais destaco o novo Aterro Sanitário Intermunicipal, o novo Centro de Triagem e a 3ª linha da nossa Central de Valorização Energética da Maia.
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Autor: Mónica Monteiro - Gestora
1 comentário:
"Um grande exemplo de VISÃO, INOVAÇÃO e FUTURO.
É caso para referir a expressão "Do resíduo à Excelência" como palavra de ordem e orgulho.
Será a MOTIVAÇÃO a chave para o sucesso..."
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