sábado, 23 de outubro de 2010

Análise - "Empreendedores que formam empreendedores"



“Criatividade consiste em ver o que toda a gente vê e pensar o que ninguém ainda pensou”
Szent-Gyorgyi

No livro “Ponto de Ruptura e Transformação”, George Land relata os resultados de testes realizados com um grupo de 1.600 jovens nos EUA. O estudo baseou-se nos testes usados pela NASA para a selecção de cientistas e engenheiros inovadores. No primeiro teste as crianças tinham entre 3 e 5 anos e 98% apresentaram alta criatividade; o mesmo grupo foi testado aos 10 anos e esta percentagem caiu para 30%; aos 15 anos, apenas 12% mantiveram um alto índice de criatividade. Um teste semelhante foi aplicado a mais de 200.000 adultos e somente 2% se mostraram altamente criativos.
Ao analisar este estudo podemos concluir que o ser humano está no auge da sua criatividade na infância e que a partir daí aprendemos a ser não-criativos. O declínio da criatividade não é devido à idade, mas aos bloqueios mentais criados ao longo da nossa vida, nomeadamente pelos métodos de ensino tradicionais.
Aquilo que me fez lembrar este estudo foi a leitura do seguinte comentário da responsável educativa do jardim-de-infância O Caminhar: “cada criança é única. Se uma criança acha que o sol é vermelho, porque não pode ser?”
Parece-me fundamental este tipo de atitude educativa face à criatividade das crianças. Uma das razões que nos pode levar a adormecer a criatividade é a necessidade de pertença ao grupo em que estamos inseridos e de sermos aceites e reforçados pelos educadores. Se ser diferente implicar o isolamento, o “raspanete” ou a chacota dos colegas e professores, o mais provável é que para a próxima eu “pinte o sol de amarelo” e passe a fazer apenas aquilo que os outros fazem e não aquilo que é a minha expressão única.
Assim se mata a criatividade e assim se mata um potencial futuro empreendedor, pois vai-se alimentado a crença, numa idade fundamental para a criação da personalidade, de que não vale a pena ser diferente, nem se treina a resiliência necessária para saber lidar socialmente com a adversidade. Educamos seres obedientes, executantes e com medo e não seres proactivos, carismáticos e empreendedores.
Num artigo publicado na Harvard Business Review, intitulado “O ADN do Inovador”, Hal B. Gregersen e os seus colegas estudaram os hábitos de 25 empresários e questionaram mais de 3000 executivos e 500 indivíduos que criaram empresas inovadoras ou lançaram no mercado produtos que fazem a diferença. Concluíram que os empresários inovadores têm o hábito de olhar para o mundo “fora do quadrado”, fazem incansavelmente novas associações e experiências, possuem uma curiosidade sem limites, mesmo que aparentemente as suas perguntas não façam sentido, e estabelecem relações sociais das mais diversas.
Ou seja: observar, questionar, associar, experimentar e estabelecer relações com o outro são as cinco qualidades fundamentais que traçam a personalidade de fundadores de empresas inovadoras, como Steve Jobs da Apple. Mas o que é extraordinário neste estudo é a conclusão de que essas são as mesmas qualidades que podemos observar na forma de agir de uma criança de 4 anos!
Daqui concluí-se que, de facto o jardim-de-infância é o local onde estão guardados os “maiores tesouros” para o futuro do nosso País, e que a melhor forma de os guardar consiste, tal como o faz o jardim-de-infância O Caminhar, em dar-lhe as ferramentas cognitivas, emocionais e de socialização necessárias sem lhes retirar o brilho único, a ousadia e a auto-estima que fará deles os nossos próximos empreendedores.

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