domingo, 4 de setembro de 2011

Empreendedor serial, André Nudelman cria companhias como filosofia de vida; negócios vão de granjas a rede de escolas bilíngues

“Patológico” é, com bom humor, como o empresário André Nudelman define seu apetite por criar novos empreendimentos. Aos 53 anos, Nudelman já tem em sua conta a abertura de nada menos que 32 empresas, em frentes tão díspares quanto um restaurante de comida típica nordestina ou uma rede de lojas de brinquedos. Mesmo para empreendedores tarimbados, é um ritmo estonteante: a média do empresário é de quase uma empresa aberta por ano ao longo de sua vida adulta.

Nudelman entrou no mundo dos negócios por força de circunstâncias pouco felizes. Logo depois de completar 20 anos, quando cursava Direito na Universidade de São Paulo (USP), o empresário tomou as rédeas da incubadora de aves comandada por seu pai, que tinha acabado de falecer.

A Granja Colorado, como se chamava a companhia, cresceu, mas não estava imune ao conturbado cenário econômico do Brasil de meados da década de 1980. “A empresa estava alavancada com recursos do crédito rural, mas o governo suspendeu as operações”, conta o empresário. Com a incubadora endividada, Nudelman teve que vendê-la. Ele tinha 25 anos.

Tempos depois, o empresário mudou-se para Maceió – e foi na capital alagoana um dos momentos mais prolíficos de sua vida de neopatrão. Em um intervalo de cinco anos, ele teve na cidade um restaurante italiano, um de comida típica local, duas pizzarias, uma boate e uma distribuidora de cigarros. Alguns dos negócios foram tocados de forma simultânea.

"Serial entrepreneur"
“Se existe o ‘serial killer’, existe o ‘serial entrepreneur’. Sou o empreendedor em série”, diz Nudelman. E, na explanação sobre um dos talentos mais evidentes de sua vida profissional, o empresário toca no ponto que, para gente menos experimentada na vida corporativa, é um calcanhar de Aquiles. “A mesma facilidade que tive para abrir uma empresa eu sempre tive para fechar”, diz. “As pessoas são muito apegadas (ao negócio). Talvez mais importante que abrir uma empresa é saber a hora de fechar”.

Cerrar as portas de um empreendimento continua a ser o destino indesejado, e não a opção, da maioria dos novos empresários brasileiros. Segundo levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em São Paulo, 58% das empresas não passaram do quinto ano de vida – os dados foram apresentados em 2010. O dado não deixa de ser um alento – dez anos antes, afinal, a taxa de mortalidade nos mesmos cinco anos era de 71% –, mas o número ainda é considerado alto pelo Sebrae.

Empreendedores seriais permanecerão como ponto fora da curva nas estatísticas. Mas, mesmo com a nuvem negra da mortalidade das empresas, que permanece espessa, o empreendedorismo avança no País. De acordo o levantamento do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o brasileiro é o povo mais empreendedor entre todos os países do G20. O estudo é realizado todo ano e sua última versão, que mapeou dados de 60 países, foi apresentada em abril.

Segundo o GEM, 17,5% da população adulta do País é formada por empreendedores em estágio inicial, um universo de 22 milhões de pessoas – número equivalente ao da população da Austrália. Quase 60% dos novos empresários brasileiros abriu seu negócio com menos de R$ 10 mil.

No papel de empregado
André Nudelman, que já engrossava as estatísticas brasileiras sobre criação de empresas antes mesmo do boom recente, achou que seria uma boa ideia testar seu tino para negócios em terra estrangeira – e, depois da temporada em Maceió, muda-se para Miami, nos Estados Unidos. Mas o ímpeto durou pouco. “Percebi que, lá, eu seria, para os americanos, só mais um cucaracha. Além disso, o investimento teria que ser bem maior por causa do trabalho pessoal: eu não conhecia os fornecedores, a lei e os consumidores”. A estada em Miami estendeu-se por seis meses.

No retorno, ele teve um estalo. A mortalidade de empresas era (na época) de 80% – e , no universo de 20% de empreendimentos que prosperavam, 70% eram criados por ex-executivos de grandes companhias. Era hora de aprender com quem sabia fazer um novo negócio passar a rebentação dos primeiros anos de vida.

Nudelman passou três anos na American Express, primeiro na área de vendas e, depois, como gerente mais graduado, na área de marketing, mesmo sem ter formação na área. “O fato de não ser formado é uma vantagem tremenda”, diz. “Você pode trabalhar com qualquer coisa”.

A afirmação está relacionada à liberdade de escolha, ressalva o empresário, e não a um pretenso desprezo pela educação formal. Durante os anos de empreendedorismo, Nudelman fez MBA e incontáveis cursos gestão e aperfeiçoamento de suas habilidades.

Brinquedo, ruim; escola, bom

Vieram outras iniciativas nos anos subsequentes: uma rede de franquias de venda e locação de jogos para videogame, que chegou a ter 32 unidades no País, sociedade em uma rede de lojas de brinquedos, a desenvolvedora de um software de compras usado por lojistas de roupas, um fundo de investimentos, entre outros. (Sobre a venda de brinquedos, ele faz a anotação: “parecia bom, mas foi o pior negócio. Todo o estoque era consignado, mas 75% das vendas se concentram em três semanas do ano”).

Nudelman decidiu procurar melhor qualidade de vida e, há oito anos, mudou-se para o Canadá. Há sete, em uma joint venture com o grupo canadense Global Schools (cada um tem 50% do negócio), ele inaugurou as primeiras escolas da Maple Bear no Brasil. Entre unidades já abertas ou em fase de certificação para início de operações, a rede de escolas bilíngues já tem 41 endereços no País.

O empresário é dono de 50% da joint venture, mas é prático ao admitir suas limitações. “Procuro não me envolver muito em decisões administrativas”, afirma. “Sou um gerente incapaz. Não perco meu tempo fazendo o que não sei”.

Em sua 32ª iniciativa empreendedora, Nudelman diz que se sente emocionado nas visitas às escolas, feitas em suas quatro viagens anuais ao Brasil (“a educação transforma o País, e formar a elite é tão importante quanto formar o restante da população”). Mas, mesmo realizado, ele se mantém fiel às lições de sua vida de criador de empresas: as portas para eventuais investidores em seu negócio nunca estarão totalmente fechadas.


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