domingo, 2 de outubro de 2011

A minha empresa é a minha vida, em sua glória, fracasso, alegria e tristeza

Existe muita discussão por aí sobre como as pessoas começam a empreender. Uns dizem que a empresa nasce de uma necessidade. Outros afirmam que empreender está no sangue. E muitos informam que empreendedorismo pode ser ensinado. Eu tenho uma opinião muito distinta: é preciso ser muito louco para se tornar o dono do seu próprio negócio.

Eu já tive muitos negócios. E a maior parte deles nasceu, cresceu e morreu dentro da minha própria mente. Tenho uma característica inerente aos bons e aos maus empreendedores: sou uma sonhadora.

Se Lennon já tinha me ensinado que sonhadores não estão solitários, fico extremamente feliz de compartilhar a minha luta com centenas de milhares de loucos como eu.

Lembro-me com alguma dificuldade do meu primeiro negócio: uma banca móvel de doces em Peruíbe, litoral sul de São Paulo. O modelo de negócio era simples e, na minha cabeça, revolucionário. Eu e a minha sócia nessa empreitada, minha prima Tatiana, comprávamos delícias no mercadinho da esquina, acondicionávamos as guloseimas em um caixote e saíamos vendendo para as crianças do bairro.

O sucesso foi instantâneo! Os doces acabaram rapidamente e repusemos o estoque no mesmo dia. Como fomos felizes naqueles momentos! Compramos a um valor e revendemos a outro aproximadamente 50% inferior. O fato de o negócio não ser lucrativo era um mero detalhe. Pensávamos em conquistar a clientela com a nossa simpatia e preços baixos, para depois repassar nossas perdas para os amigos dos clientes, que nos indicariam como as “rainhas dos doces” – naquele quarteirão de Peruíbe. Dominaríamos o mundo em questão de dias.

Infelizmente, nossa jornada durou poucas horas. Minha tia descobriu a nossa prática de dumping e retirou imediatamente os nossos nada abundantes recursos financeiros do negócio: as nossas mesadas das férias de verão. Essa foi a minha primeira decepção empreendedora. Eu tinha entre 9 e 11 anos de idade. Eram os anos 80, sabe? Época difícil para novos empreendimentos.

Estudei em boas escolas, entrei na universidade, trabalhei muito e conquistei aquilo que esperavam de mim: uma boa garota de classe média, bem educada e com um emprego regular em uma grande empresa.

Foram 14 anos de equilíbrio. E, mesmo durante esse período, construí vários negócios que eu julgava geniais. Em 2002, eu investi em equipamentos para estampar e vender camisetas, pois tinha certeza absoluta de que eu estava pronta para um sucesso no mundo fashion. Ledo engano, pois, nessa época, conheci a minha primeira de muitas sociedades parasitas.

O ano em que eu enlouqueci e empreendi de verdade foi 2009.

Abandonei um baita emprego em uma grande empresa e abracei a ideia que me move nos últimos dois anos e meio da minha vida. Hoje eu sou a principal executiva, operadora, faxineira e escrava do meu próprio empreendimento, uma empresa de desenvolvimento de aplicativos para mídias sociais. A minha empresa é a minha vida, em toda a sua glória, fracasso, alegria e tristeza.

Eu não estou aqui para compartilhar com vocês uma história de sucesso. Antes de ter a minha própria empresa, eu escrevia no meu lindo e bem elaborado currículo que eu tinha 14 anos de experiência na área de informática. Hoje eu sei que tenho apenas três. Os 14 anos anteriores foram repetidos um a um, ano após ano, sem eu perceber. E os anos de empresária foram a minha experiência real: o meu MBA da vida.

Por essa empresa, sinto uma paixão doentia. Coisa de gente louca mesmo.

Maria Carolina Cintra é sócia-fundadora da Kingo Labs. É especialista em gerenciamento e análise da informação e coordena projetos de mobile e web 2.0, como o Sorteie.me.

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