Em março deste ano, fui convidada a fazer uma palestra sobre empreendedorismo feminino, em homenagem ao mês da mulher. Pensando sobre o que eu falaria nessa apresentação, fui pesquisar o que dizem alguns artigos científicos acerca do tema.
No primeiro artigo que eu li, as pesquisadoras Bush (USA), Bruin (Nova Zelândia) e Welter (Suécia) questionavam se os princípios necessários para o empreendedorismo (mercado, dinheiro e recursos), descritos desde 1934 por Schumpeter e confirmados por muitos outros estudiosos, aplicavam-se a todos os empreendedores ou somente aos homens. O problema de pesquisa nasce do fato de o sexo masculino ser considerado o gênero neutro socialmente e em alguns idiomas. E a conclusão delas foi que não, as teorias tradicionais relativas ao empreendedorismo não consideravam o universo feminino, que tem suas particularidades.
Enquanto para os homens eram necessários e suficientes três fatores para um empreendimento ser possível (mercado, dinheiro e recursos), para as mulheres, os quesitos em jogo eram cinco. Além dos três fatores tradicionais, na decisão de empreender das mulheres existiam também a família e o ambiente.
Como família, as pesquisadoras entendem os filhos, o marido, a casa, os pais, os irmãos e todos que orbitam as mulheres e são fontes de preocupação e responsabilidade predominantemente delas. Na hora de decidir por abrir ou não sua empresa e qual ramo escolher, as mulheres tendem a levar em consideração sua família, buscando ocupações que possibilitem conciliar seus aspectos profissionais com os familiares. No universo masculino, isso é menos relevante. Os homens tendem a ter menores restrições para viagens ou para longas jornadas de trabalho no escritório, por exemplo, em comparação a mulheres que são responsáveis pelo cuidado de pessoas em suas famílias. Elas buscam estar presentes ao máximo na rotina da casa e, por isso, de maneira geral, evitam ausências prolongadas.
Além da família, o ambiente é outro fator que impacta na decisão de empreender. Em alguns locais ou culturas, não é bem visto que a mulher seja tão independente. Ou ela pode ter sua empresa, mas não em qualquer segmento. Alguns trabalhos ainda são predominantemente masculinos, o que torna mais difícil a entrada de mulheres nessas áreas e adiciona riscos e custos extras ao plano de negócios. Além disso, as mulheres, de maneira geral, têm maiores dificuldades de acesso a crédito e redes de relacionamentos menores, o que são fatores ambientais que afetam diretamente o desenvolvimento das empresas.
Esse estudo, publicado em 2009 e chamado A gender-aware framework for women’s entrepreneurship, tornou o meu interesse em pesquisar sobre o empreendedorismo feminino ainda mais aguçado. Aqui no blog, vou contar as minhas outras descobertas de artigos a respeito desse tema.
Raquel Marques tem uma história como sócia em duas empresas. Seu desafio é equilibrar as demandas de família e a SocialBureau, que é financiada por bootstrapping, ou seja, somente por seu fluxo de caixa.
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