domingo, 2 de outubro de 2011

Quando a crise bateu, tirei a sorte grande e virei empreendedora

Costuma-se dizer que as pessoas empreendem por necessidade, vocação ou acidente. No meu caso, foram os três, e julgo que ter me tornado empreendedora foi o melhor passo que dei na minha vida até hoje.

Filha de mãe brasileira e pai francês, cresci com minha mãe e minha irmã no Rio de Janeiro, estudando no sistema escolar francês e visitando meu pai na França todos os anos. Fui criada em um universo internacional, multicultural e com um foco muito grande na importância da carreira para garantir não só a nossa independência financeira, mas, acima tudo, o poder da escolha. Optei por um diploma de engenharia civil com ênfase em produção na PUC-Rio. Fui aceita em cursos de marketing global na Universidade da Califórnia e em um estágio na área comercial da IBM. Fui trainee em uma empresa de engenharia civil na África do Sul e depois contratada como analista de marketing na L’Oréal.

As portas se abriam, de fato, mas, apesar das descobertas, faltava-me algo mais. Primeiramente, um bom salário. Aos 23 anos, aproveitei do grande benefício de ter um passaporte europeu e parti em busca de uma carreira mais internacional e de real independência financeira.

Na França, minha grande sorte foi falar inglês melhor do que a grande maioria dos franceses, o que me rendeu uma vaga na filial da Microsoft. Rapidamente passei para um posto de responsabilidade sobre produtos emergentes (novas tecnologias) na Europa, no Oriente Médio e na África. Cabia a mim fazer o necessário para aumentar a receita e o market share dos meus produtos nas regiões.

Ao término de quatro anos de Microsoft, sediada em Paris e depois em Munique, resolvi que era hora de passar para uma estrutura menor, de startup. Mudei-me para Londres, onde trabalhei por alguns meses em uma empresa de tecnologia de virtualização em forte crescimento na época. Percebi rapidamente que já não se tratava mais de uma startup, pois ela não tinha nenhum dos desafios típicos das empresas nascentes. Clientes e parceiros batiam à porta pedindo para comprar os produtos.

Senti na pele que nenhum funcionário, por mais eficiente e correto que seja, é indispensável para uma empresa. Tentei corrigir ineficiências, batendo de frente com gerentes. Fui demitida. Aprendi que somos todos substituíveis e devemos sempre escolher nossas batalhas (o famoso “pick your battles”).

Aos 28 anos, tirei a sorte grande. A crise mundial estourou exatamente quando eu ia aceitar um cargo em outra empresa de software. A paralisação do mercado de trabalho me salvou. Uni a necessidade à vocação e resolvi empreender. A crise me forçou a fazer o que sempre quis, sem poder me esconder atrás dos altos salários que havia conquistado. Com minha demissão e com a crise, entendi que ser empregado está longe de ser seguro. A única real segurança financeira e profissional está no equity, em ser não só dono do seu negócio, mas também ter poder de decisão dentro da empresa.

Joana Picq é engenheira civil de origem franco-brasileira. Em Londres, foi cofundadora do AchaLa.com.br e do Matchik.com. Agora está criando uma subsidiária do VoyagePrive.com no Brasil.

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