sábado, 8 de outubro de 2011

"Gostava que em Portugal se comprasse apenas o que é Português" Afirma António Silva CEO da Nonius


Em 2004 os fundadores da Nonius concorreram ao Concurso de Ideias da Agência de Inovação com o Projecto WirelessGEST, tendo sido seleccionado como uma das 30 melhores ideias de negócio. Após 9 meses a preparar o arranque, a Nonius inicia a sua actividade.

VE - A Nonius é uma empresa focada nas tecnologias de Internet. Pode explicar-nos exactamente em que consiste a vossa actuação?
AS - Em 2005 a Nonius começou por oferecer soluções de Acesso à Internet para quatro mercados: hotelaria, condomínios residenciais, centros empresariais e hotspots públicos. Rapidamente verificamos que o mercado hoteleiro era aquele onde iriamos ter maior sucesso. Três anos depois, a Nonius tornou-se o maior fornecedor de tecnologia para a gestão de acesso à Internet para clientes no mercado hoteleiro nacional. Com o volume de negócios a crescer entre 50 a 70% ao ano, no início de 2008,começou o processo de internacionalização. Com o processo de internacionalização, houve o reposicionamento da Nonius para fabricante de produtos e software.
O nosso forte conhecimento das necessidades do mercado hoteleiro e a nossa capacidade de desenvolver soluções tecnológicas de elevada qualidade, resultou na criação de novos produtos e serviços. No fim de 2009, a Nonius apresentou ao mercado uma solução de entretenimento e multimédia para os quartos, usando tecnologias Internet e IPTV. Este novo produto, tem funcionalidades que permitem oferecer aos hóspedes uma experiência única de televisão interactiva. O NiVo combina funcionalidades de TV e radio, Video-on-Demand, acesso à Internet, jogos, compra e personalização de serviços, e tudo acessível através de um comando e de um teclado wireless.

VE - Com carreiras profissionais de sucesso a nível internacional, o que os levou a optar pela criação de um projecto próprio? Em que medida foi essa experiência importante?
AS- Em 2004, mais do que a ideia de um projecto, surgiu a ideia de criar uma empresa. Começámos por discutir vários planos de negócio e resolvemos explorar as tecnologias de gestão de acesso à internet para diversos mercados: mercado hoteleiro, mercado residencial, mercado de espaços públicos. Surgiu a oportunidade de submeter essa ideia a um concurso de ideias, promovido pela Agência de Inovação, que permitiu a sua validação.
Fomos seleccionados como uma das melhores ideias do concurso e ganhámos um prémio, que teve o efeito dinamizador necessário para arrancar com o negócio.
Durante um ano, estivemos a trabalhar no plano de negócios, e em Abril de 2005 a Nonius arrancou. Nessa altura, eu estava a trabalhar no Reino Unido pelo que regressei para me dedicar ao projecto a tempo inteiro, pois só assim acreditava que seria possível ter sucesso.

VE - No caso da Nonius entre a apresentação da ideia e o arranque da empresa passaram-se 9 meses. Em que medida foi importante este período de preparação do projecto?
AS - A formação dos 3 promotores era técnica, não havendo experiencia em gestão e arranque de empresa. Nos tínhamos muita experiencia no desenvolvimento de produtos e na gestão de equipas técnicas.
Durante esse período, houve a maturação da ideia, a elaboração do plano de negócios e a minha formação em Empreendedorismo e Gestão de Empresas, que foi fundamental para a consolidação da ideia de negócio e o arranque da Nonius.

VE - A elaboração de um Plano de Desenvolvimento e Expansão marcou o período de crescimento da empresa, em que medida influenciou a obtenção de financiamento por parte de investidores externos?
AS - Desde o seu início, a Nonius teve sempre capitais de risco como investidores. Logo ao fim de 3 meses de actividade, houve o investimento de uma empresa de capital de risco.
A Nonius financia a sua actividade em capitais próprios. O crescimento constante do volume de negócios tem obrigado a aumentos de capital e investimentos de modo a sustentar esse crescimento.
A meio de 2007, foi fundamental o investimento da PME Investimentos e o reforço por parte dos accionistas da altura, de modo a permitir investimentos em internacionalização e sustentar o crescimento do volume de negócios esperado para os anos seguintes.
Posso já adiantar que desde o início do ano, estamos a negociar com novos investidores e já asseguramos o investimento de uma entidade de capital de risco de referência nacional que nos irá permitir continuar a crescer durante os próximos anos. Contamos durante o mês de Setembro, finalizar o processo contratual.

VE - Em termos geográficos qual é a distribuição da vossa carteira de clientes?
AS - Em Portugal as nossas tecnologias estão em mais de 300 clientes entre hotéis, hospitais, centros empresariais, centros comerciais, navios-hotel, escolas, distribuídos por todo o país.
A Nonius tem focado a sua internacionalização nos países lusófonos e Espanha. Também temos clientes noutros países europeus e africanos tais como Itália, Holanda, Grécia, Turquia, Nigéria e Quénia.

VE - Qual a representatividade da Nonius no mercado actualmente?
AS - Em Portugal, a Nonius assume-se como líder no fornecimento de tecnologias de software para a gestão do acesso à Internet, no mercado hoteleiro. Estamos agora a marcar a nossa presença no que diz respeito ao NiVo, a solução de IPTV.
Internacionalmente, as soluções da Nonius encontram-se instaladas em mais de 25.000 quartos entre países como Portugal, Espanha, Itália, Holanda, Grécia, Turquia, Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Nigéria e Quénia.

VE - Quando de fala em desenvolvimento tecnológico fala-se de inovação. De que forma a Nonius promove e fomenta a inovação na sua intervenção com os seus clientes?
AS - Desde o arranque que nos focamos no cliente, ouvindo as suas necessidades e os seus problemas e trabalhando com eles para arranjar soluções tecnológicas com vista à redução de custos operacionais e incremento das suas receitas.
Temos verificado que os nossos clientes têm uma ânsia muito grande pela inovação, lançando-nos desafios constantes. Para nós, tem bastado responder aos desafios dos nossos clientes para lançar produtos e tecnologias inovadoras.
Internamente, promovemos a evolução e mudança constantes de processos e métodos de trabalho, com vista a reduzir as actividades recorrentes e básicas que podem ser automatizadas de modo a que a equipa se possa focar em tarefas de valor acrescentado aumentando a produtividade.

VE - Actuando a Nonius num sector altamente competitivo (TI’s), em que os grandes player’s são internacionais, o que diferencia a empresa face a concorrência?
AS - A Nonius tem o cuidado de desenvolver os seus produtos com base nas necessidades e problemas reais dos clientes, de preferência com o cliente como parceiro de desenvolvimento.
Os produtos da Nonius são altamente personalizáveis e adaptáveis às necessidades de cada cliente.
A nível técnico, os produtos da Nonius já têm um conjunto de funcionalidades superiores aos seus concorrentes no mercado, sem descurar a sua estabilidade.

VE - Na área da prestação de serviços, os colaboradores são a vantagem competitiva da Empresa. Como encara a Nonius o desenvolvimento e formação profissional dos seus colaboradores?
AS - A Nonius é uma empresa que aposta em colaboradores jovens altamente qualificados, de referir que mais de 90% são licenciados e mestres. Apostamos em pessoas inteligentes com elevada margem de progressão.
Fomentamos a ida das pessoas a conferências, feiras e acções de formação pontuais e especificas de acordo com as necessidades da empresa e dos nossos clientes.
Dado que a área de actuação dentro das TI’s é muito específica e especializada, apostamos em muita formação interna com sessões de treino tais como “pizza lunch”, que são sessões de duas horas, durante a hora de almoço, na qual num ambiente informal, um colaborador apresenta/forma os outros das tecnologias e progressos que fez no seu trabalho.


VE - A Nonius dispõe de algum processo de gestão/retenção de talentos?
AS - Temos um processo de avaliação anual que resulta na atribuição de prémios de desempenho e ajustes das remunerações. Esse processo foca-se em indicadores de avaliação de desempenho tais como produtividade e qualidade, iniciativa, desempenho e integração na equipa.
Neste momento estamos a trabalhar num plano de atribuição de acções da empresa a trabalhadores como um plano de incentivo a médio / longo prazo.



VE - Em 2007 a Nonius iniciou o seu processo de Internacionalização, tendo sido o ano de 2008 um ano de aprendizagem e de adaptação. Que alertas daria às empresas que iniciam agora essa aventura?
AS - Primeiro temos que saber em que áreas queremos internacionalizar, pois dependendo das áreas onde se quer internacionalizar as dificuldades são diferentes. Focámos inicialmente a nossa internacionalização na Europa, e deparámo-nos com um grande problema, que é o facto de Portugal ser um país periférico geograficamente. O facto de estarmos na extremidade da Europa causa algumas dificuldades, ao nível de viagens e transportes: sentimos que não estamos tão perto do Centro da Europa como desejaríamos. Com Espanha já é diferente, ou seja, já é mais fácil internacionalizar. Depois, há uma grande dificuldade em determinados países, devido ao proteccionismo aos produtos nacionais e à resistência a ofertas de produtos importados. Alemanha, França e Espanha reflectem bem este proteccionismo. Em França, abandonámos completamente o esforço de introdução dos nossos produtos. Em Espanha, percebemos que eles preferem comercializar através de distribuidores e integradores locais e aí conseguimos ultrapassar aquela dificuldade. No caso da Alemanha, a entrada neste mercado é feita através de um processo de licenciamento, ou seja, a tecnologia é comprada pelo cliente final como sendo Tecnologia Alemã. Temos portanto duas perspectivas diferentes.
Gostava que Portugal tivesse a mesma atitude que os franceses, de comprar apenas o que é português. Em Portugal a dificuldade é inversa, o que é português não é bom produto. Foi uma dificuldade que a Nonius teve de enfrentar: combater a desconfiança acerca do produto português, provar que a tecnologia portuguesa tem qualidade. É complicado criar uma empresa de tecnologia em Portugal, porque os portugueses acham que o que vem de fora é melhor, e quando chegamos a França ou à Alemanha temos igualmente dificuldades porque eles acham que a tecnologia deles é a melhor.
Em 2008, internacionalizámos na Europa, e a partir do início de 2009, começámos a olhar para outros países fora da Europa, onde o processo de internacionalização é mais fácil, como é o caso dos países lusófonos, Angola, Moçambique, Cabo Verde e agora, mais recentemente, o Brasil. Comercialmente estamos a ter resultados mais interessantes e muito mais rápidos, porque não temos as dificuldades do mercado não reconhecer a nossa tecnologia como sendo de alta qualidade.


VE - Qual é a importância do Mercado Externo na composição da carteira empresa?
AS - Em termos de volume de negócios representam entre 15 e 20%. No ano passado foram 12% e há dois anos consideravelmente menos.

VE - As novas tecnologias é uma área extremamente atractiva para os jovens. Que conselho daria aos jovens que quisessem empreender nessa área?
AS - Os conselhos que dou é que o projecto seja algo em que realmente acreditem, que se dediquem a 100%, que se foquem no cliente e que a grande meta seja vender o produto e/ou o serviço, pois só com vendas um projecto empresarial poderá ter sucesso.

VE - A Nonius foi considerada como PME excelência em 2010, o que significa esta distinção para a vossa empresa e para a estratégia que traçada?
AS - Significa o reconhecimento de todo o trabalho e esforço que todos os colaboradores dedicam à Nonius, ao longo destes anos, para que esta atinja os melhores resultados possíveis.
É também uma honra pertencer a este grupo restrito de empresas que se evidenciam pelos melhores desempenhos e indicadores de gestão.


VE - Que desafios a Nonuis tem pela frente nos próximos tempos?
AS - nosso principal objectivo é que entre 2013/2014, 70% das receitas sejam provenientes da actividade internacional. Estamos a caminhar bem, apesar da recessão económica em Portugal, as nossas exportações estão a aumentar a um ritmo interessante.

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